E, por fim, meu Imaculado Coração triunfará!

sábado, 20 de agosto de 2011

A primeira etapa da reforma litúrgica. - Parte II

2) Nas leituras e nos cantos entre as leituras:

- Nas missas celebradas com o povo (rezadas, cantadas ou solenes), não se recita nem canta a Epístola voltado para o altar e o Evangelho para o norte, mas se recita voltado para o povo desde um ambão ou da grade do coro 29.
- Nas missas não solenes celebradas com povo, as lições e a Epístola, com os cantos entre as leituras, podem ser lidos por um leitor capaz ou por um coroinha, enquanto que o celebrante continuará sentado e lhe ouvirá.
- O padre permanece sentado durante todas as leituras. Ele abençoa o subdiácono e o diácono; ele impõe o incenso, abençoa-o e continua sentado. Ele entoa da banqueta o Gloria e o Credo. Preside, por último, a oração universal a partir da banqueta, ao menos que o faça do ambão ou da grade do coro.
3) O papel atribuído ao vernáculo na missa:

- Nas missas, quer cantadas, quer rezadas, as lições, a Epístola, o Evangelho e a oração universal devem ser lidas em vernáculo.
- O Kyrie, o Gloria, o Credo, o Sanctus e o Agnus Dei podem ser recitados ou cantados na língua do país.
- Todo o próprio da missa pode ser recitado ou cantado em vernáculo: a antífona de entrada (Introito), o oração da coleta, o gradual, o Alleluia e o seu versículo, o tracto, a sequência, a antífona do ofertório, a secreta, a antífona da comunhão e a oração da pós-comunhão.
- O que resta das orações ao pé do altar pode ser dito em vernáculo: Confiteor, Misereatur, Indulgentiam, etc.
- Além disso, as aclamações, as saudações e as fórmulas de diálogo como o prefácio podem ser ditas em vernáculo (Dominus Vobiscumsubstituído por “O Senhor esteja convosco”, o Oremus por “rezemos ao Senhor”, etc.) 30.
- O Pater e o Libera nos podem ser recitados ou cantados em vernáculo por todo o povo 31.
- O “Domine non sum dignus” pode ser dito em vernáculo.

Ao fim desta lista das mudanças operadas no rito de 1965, não se pode deixar de pensar no que Mons. Klaus Gamber escreveu sobre as múltiplas pequenas mudanças inseridas no rito de Paulo VI:
“Depois de tudo, a questão é a seguinte: o que se quis alcançar com essas modificações, algumas das quais são mínimas? Talvez muito simplesmente se quis realizar as idéias favoritas de alguns especialistas em liturgia, mas às custas de um rito com mais de 1500 anos!” 32 É igualmente o caso da reforma que aqui estudamos. É necessário notar que entre todas as mudanças, algumas são mais importantes que outras. As três inovações mais discutíveis são o uso do vernáculo para tudo o que se diz em voz alta pelo celebrante ou pela assembléia; a divisão da missa ao meio, de tal modo que o padre abandone o altar até o ofertório; e as escolhas múltiplas deixadas ao padre, permitindo-lhe adaptar a liturgia (segundo quais critérios?).

Para a questão do uso do vernáculo na liturgia e do problema das traduções, retornemos às numerosas obras e artigos publicados sobre este assunto já há mais trinta anos 33. Mas é necessário notar que, paradoxalmente, vários padres que levam adiante o uso do latim em sua defesa do rito tradicional, sonham apenas com uma coisa: rezar em vernáculo tudo o que é dito em voz alta na missa, ou seja, tudo que os fiéis ouvem 34. Nisso, já no rito de 1965 a unidade que caracteriza o Rito Romano Tradicional era perdida. Ademais, se o uso do vernáculo é introduzido para “unificar” as duas comunidades, que traduções serão utilizadas em tais assembléias: o “vós” ou “tu”? “Não nos deixes cair em tentação” ou “não nos sujeiteis à tentação”? “Consubstancial ao Pai” ou “da mesma natureza que o Pai”? etc. [nota da redação: tais variações de tradução no idioma francês não correspondem à versão portuguesa. Em nosso caso, poder-se-ia questionar sobre “perdoai-nos as nossas dívidas” ou “perdoai-nos as nossas ofensas”, “e com teu espírito” ou “ele está no meio de nós”, etc].

O leitor pode imaginar a cacofonia que provocaria tal reforma: os fiéis tradicionais querendo guardar com toda a razão as traduções tradicionais e os fiéis modernos as suas. Mais divisões à vista. Vimos que no rito de 1965, após as orações ao pé do altar (ou daquilo que delas resta), o celebrante se encaminha diretamente à banqueta ou ao ambão e lá permanece até o ofertório. A concepção dos reformadores sobre a missa vai provocar sua divisão em duas partes bem distintas 35: o altar é reservado à “liturgia eucarística”; quanto à “liturgia da Palavra”, ela se passa integralmente fora do altar (exceto a incensação do início da missa). Essa divisão é o que choca, à primeira vista, no rito de Paulo VI e já no de 1965. Até o rito de 1962, o padre que celebra a missa solene está sempre no altar: é de lá que ele entoa o Gloria e o Credo, é de lá que ele canta a coleta. Ele abençoa o subdiácono e o diácono, assim como o incenso, para as diferentes incensações durante a missa. Ele permanece na banqueta apenas durante a epístola e os cantos do coro. 

Em contrapartida, no caso da missa pontifical ao trono (a do bispo em sua diocese), o pontífice não vai ao altar até o ofertório (exceto, evidentemente, na incensação do início da missa). Ele senta ao trono, que é originalmente uma cátedra, por conseguinte, um lugar fixo afastado do altar. Com efeito, o bispo em sua diocese representa o Cristo Soberano Pontífice, e apenas ele tem o direito de ocupar o trono. Tem não apenas a plenitude do sacerdócio, mas também o poder de jurisdição. Os gestos litúrgicos vão, naturalmente, exprimir isso: o Santíssimo Sacramento é retirado do Tabernáculo do altar-mor, ajoelha-se diante do bispo durante a cerimônia e, como dissemos, ele não se dirige ao altar, mas permanece ao trono (que se encontra do lado do Evangelho, que é lado mais digno) onde realiza as funções pontificais e isso até o ofertório: ele celebra fora do altar. A missa pontifical ao trono é, em certa medida, uma manifestação da Igreja: a partir da renovação do Sacrifício da Cruz se estrutura toda a Igreja, com o conjunto do clero por ordem hierárquica que cerca o bispo, que representa simultaneamente Cristo-Sacerdote, Cristo-Pastor e Cristo-Mestre da fé. Compreende-se, então, a importância da liturgia na Igreja: “Ato da Igreja, a liturgia se modela sobre a própria constituição da Igreja.” 36

Se um bispo celebra fora da sua diocese, tem o poder de ordem, mas não o de jurisdição, e por esta razão não celebra ao trono (ao menos que o ordinário do lugar lhe permita), mas aofaldistório, que é uma sede móvel que se coloca na dependência imediata do altar, do lado direito. Neste caso, o bispo exerce as mesmas funções que o bispo ao trono, mas próximo ao altar, voltando-se freqüentemente para ele, manifestando assim como o altar permanece o pólo organizador da celebração. No caso do padre durante a missa solene, há uma semelhança entre o faldistório e a banqueta: ambos são colocados próximos ao altar, do lado direito. A diferença é que o faldistório do bispo é orientado em direção aos fiéis (como era na antiga catedral), enquanto a baqueta fica perpendicular ao altar. Enquanto que o trono se encontra elevado em um ou vários degraus, a banqueta permanece in plano. Ela deve ser móvel e o costume de não a deixar entre duas cerimônias é comum. O padre permanece na banqueta apenas durante os cantos executados pelo coro, bem como durante a epístola, e é do altar que realiza os atos presidenciais 37 próprios do celebrante. A ausência de jurisdição é manifestada por esta presença do padre no altar para todas as funções propriamente sacerdotais: o seu poder sacerdotal está como que ligado ao altar, emana do altar. Isso é particularmente visível quando, ao abençoar com a sua mão direita o incenso, o diácono ou o subdiácono, o padre mantém sua mão esquerda sobre o altar. Certo, o uso contrário existiu, mas permanece uma exceção e era percebido como tal ao se falar a seu respeito enquanto privilégio:

“O Pontífice permanece ao trono até o ofertório, de onde recita ou canta, durante este tempo, tudo o que deve ser recitado ou cantado. Deste mesmo privilégio gozam igualmente todos os celebrantes da Igreja de Reims, mesmo que não sejam bispos. Eles não recitam nem cantam nada desde o altar até o ofertório, mas sobre um atril colocado ao lado do altar” 38. Um estudo histórico do Padre Emmanuel OSB, no 3º colóquio do CIEL 39 (de onde foi tirado o essencial de nossa matéria sobre este assunto), expõe claramente este problema e conclui: “No início deste estudo, fizemos a seguinte pergunta: “A regra em vigor até em 1962 (presidência ao altar para o simples padre) é universalmente atestada na história da missa romana ou há exceções”? Ao fim de nosso estudo, podemos responder: Na medida em que os textos a que hoje temos acesso nos permitem julgar, a missa romana, tanto no uso da cúria como no das dioceses e ordens religiosas, mostra-nos o simples padre se mantendo no altar para o Gloria, a Coleta e o Credo, e isso inclusive até 1962. O Ordo Missae de 1965 se afasta, portanto, da prática em uso -- de maneira quase geral -- até então, ao colocar o simples padre à sede para tal”.

O caso que estudamos é particularmente representativo da relação que existe entre a teologia e a liturgia. O poder de ordem e o poder de jurisdição, que são noções teológicas, são, pelos gestos litúrgicos, claramente manifestados durante a Missa Pontifical ao trono. O poder deordem sem o poder de jurisdição é da mesma maneira expresso pela missa pontifical ao faldistório. Por último, a missa solene do simples padre, exercendo o seu poder de ordem a partir do altar, mostra a ausência da plenitude do sacerdócio nele, que não recebeu o episcopado.

CONTINUA...

FONTE: Fratres in Unum

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A primeira etapa da Reforma Litúrgica

Algumas notas sobre o rito de 1965 ou “A primeira etapa da Reforma Litúrgica” - Por Padre S. Dufour


O anúncio feito pelo Cardeal Castrillon Hoyos (por ocasião da audiência concedida à associação Una Voce, na segunda-feira, 4 de setembro de 2000 1, e reiterado em uma entrevista publicada na revista mensal La Nef 2) sobre a possibilidade de um ordenamento do missal de 1962 em direção às rubricas de 1965, relançou o debate a respeito desse rito 3. Debater ou simplesmente se deter sobre o rito de 1965, que não teve mais que uma breve existência (1965-1967: data da passagem a uma liturgia integralmente vernácula), não deve ser algo reservado apenas aos especialistas da história da liturgia. Pelo contrário, esse assunto diz respeito a todo católico preocupado com a integridade de fé, “sem a qual é impossível agradar a Deus” 4, e que se indaga sobre a liturgia, na medida em esta traz conseqüências para aquela, em virtude do princípio da “lex orandi, lex credendi” 5. 

Há já alguns anos que vários padres “Ecclesia Dei” começaram a preparar, por iniciativa própria 6, a “reforma da reforma” e, de fato, anteciparam-se ao utilizar, assim como ao promover, o rito de 1965. Para eles, o rito de Paulo VI e rito Romano Tradicional não podem coexistir eternamente na Igreja Latina e é necessário encontrar uma solução. Pensam que o rito de 1965 é uma boa conciliação entre os dois: a primeira parte da missa é, grosso modo, a do rito de Paulo VI; o Ofertório e o Cânon são os do rito Romano tradicional. Por conseguinte, o essencial parece ficar a salvo. Contudo, veremos que esse rito não pode ser uma solução aceitável porque, pelo espírito que o sustenta, também presente na origem dos gestos litúrgicos que impõe, não pode ser mais que uma etapa, mais ou menos longa, em direção à missa nova.

Ademais, sua utilização habitual corre o risco de criar um terceiro rito, o que não deixará de acentuar as divisões entre os fiéis e entre os padres, e, assim, agravar a situação atual: o remédio aplicado poderia se revelar ainda pior que a própria “doença”. O melhor meio de se lançar um olhar objetivo sobre os fatos é muito simplesmente consultar os livros surgidos em 1965 para apresentar esse novo rito aos padres. O próprio título do nosso artigo, “O rito de 1965 ou: a primeira etapa da reforma litúrgica” 7, pode parecer polêmico, no entanto, ele não é nosso, mas de Pierre Jounel, personalidade bem conhecida do movimento litúrgico 8 e um dos grandes “cabeças” do C.N.P.L. (Centro Nacional de Pastoral Litúrgica). É ele quem o emprega no título de sua obra: Les rites de la messe em 1965 9 , que tem por objetivo justificar a reforma de 1965 e comentar as rubricas deste novo rito (o ritus servandus, o de defectibus e o Ordo Missae). É interessante notar integralmente uma parte de sua introdução, que tem o mérito de resumir a diferença entre rito de 1962 e o de 1965: “Quando, em 1962, a Congregação dos Ritos publicou uma nova edição típica do Missal Romano, a fim de adaptá-lo ao Código de Rubricas de 1960, congratulou-se com as múltiplas correções trazidas aos ritos da missa, mas ninguém teve a impressão de uma novidade. O ritus servandus in celebratione Missae foi atualizado, simplificado em alguns pontos, esclarecido em sua redação aqui ou ali; mas não diferia essencialmente daquele que havia sido promulgado pelo Papa São Pio V em 1570. Quanto ao Ordo Missae, ele não sofreu nenhuma modificação 10.

Pelo contrário, em 7 de março de 1965, padres e fiéis descobriram uma liturgia nova, celebrando pela primeira vez a missa segundo o Ritus servandus e o Ordo Missae promulgados em 27 de Janeiro do mesmo ano, sob a autoridade conjunta do Conselho para a Aplicação da Constituição Litúrgica e da Congregação dos Ritos. Sem dúvida, o novo uso da língua do país era para muitos a descoberta, mas os ritos mesmo se apresentavam sob uma luz desconhecida até então: a celebração da liturgia da Palavra fora do altar, o fato de do celebrante não recitar mais em privado os textos proclamados por um ministro ou cantados pela assembléia, constituíam inovações capitais. Teriam surpreendido tanto um contemporâneo de São Luis como um cristão do século XIX, pois era necessário remontar ao primeiro milênio para encontrar uma visão igualmente nítida das estruturas fundamentais da missa 11.

Porém, desde 7 de março, certos problemas oriundos da reforma da liturgia têm amadurecido espantosamente rápido. Na celebração voltada para o povo, recomendada pela instrução Inter Oecumenici 12, alguns gestos herdados da Idade Média, como os múltiplos beijos no altar, os sinais da cruz sobre as oblatas, as genuflexões repetidas, ou, ainda, a recitação do Cânon em voz submissa, tornaram-se um verdadeiro fardo para os padres (sic!) que, até então, haviam observado as rubricas com toda tranqüilidade. Descobre-se nesta tensão que, se o Ritus servandus de 1965 comporta novidades inegáveis, permanece dependente das rubricas codificadas em 1570, sobretudo no que diz respeito à liturgia eucarística. “Entre a liturgia do Concílio de Trento e a do Concílio do Vaticano II, ele constitui um ritual de transição”13. Pouco mais adiante, o autor desenvolve esta idéia em um parágrafo especial: “O Ritus servandus de 1965 pertence, de certo ponto de vista, à linhagem do Ritus de 1570, conservando a mesma estrutura e reproduzindo freqüentemente os seus termos. No comentário a seguir é possível dar, para o maior número de artigos do novo Ritus, a referência ao artigo correspondente da edição de 1962. Mas, se o Ritus de 1965 reproduz freqüentemente a letra do de São Pio V, ele tem um outro espírito (…)

O Ritus de 1965 quis restaurar sem maior demora a liturgia da Palavra: esta é celebrada desde a cátedra do celebrante e do ambão: as leituras são realizadas pelo ministro competente; o gradual pode ser salmodiado por um cantor-leitor com resposta do povo (ver o Graduale simplex); (…); a oração universal 14 [ndr: conhecida no Brasil como “oração dos fiéis”+ vem por último coroar o conjunto do rito. O futuro Ordo Missae não terá nada a acrescentar a tal prescrição. No aguardo do novo lecionário, cuja preparação ordenou o Concílio (SC 51), os ritos estão já estabelecidos para uma digna celebração da palavra de Deus 15 ”. 16 Por último, Jounel conclui a sua introdução: “Herdeiro da liturgia de ontem, estabelecendo hoje elementos essenciais da liturgia de amanhã, o Ritus servandus de 1965 é um ritual de transição”. 17 Esta explicação do Padre Jounel não é marginal, bem pelo contrário. No mesmo ano, o Padre Elhinger publicou um livro intitulado: La Réforme liturgique. Décisions et directives d’application 18 no qual afirma claramente que o rito de 1965, por sua própria natureza, não constitui mais que uma etapa, e não uma adaptação do rito Romano tradicional destinada a perdurar:

“Trata-se de retoques circunstanciais, ou de um esforço coerente, integrado em um projeto mais amplo, sustentado por um espírito? 19 De antemão, estamos tratando sobre o caráter definitivo destas reformas. Elas são a primeira parte de um projeto de restauração mais amplo. O trabalho é parcial, mas não provisório. O Consilium não quis tocar em questões que ainda precisam ser amadurecidas, como o rito do Ofertório, da fração ou do envio da assembléia, porque as quer realizar definitivamente. (…) A Instrução Inter Oecumenici assegura a transição entre a liturgia anterior ao Concílio e a restauração mais profunda; não é uma adaptação de circunstância, mas uma etapa”. 20 “Ritual de transição”, “liturgia nova”, “etapa”, etc. Estas expressões empregadas pelos dois autores citados são claras e revelam o que realmente é o rito de 1965, e isso por um dos que contribuíram para a sua criação. Pois se trata aqui de pareceres autorizados e não de interpretações fantasiosas sobre o novo rito de 1965: recordamos que o Padre Jounel desempenhou um papel muito importante na redação deste rito, e, posteriormente, no rito de Paulo VI 21. As duas explicações concorrem em afirmar que o rito de 1965 é apenas uma etapa, uma transição, que não deve perdurar, entre o rito Romano tradicional e o rito de Paulo VI: a “liturgia da Palavra” estilo moderno já está instaurada, não restando senão fazer frente ao Ofertório e ao Cânon Romano: os mesmos princípios errôneos conduzem inevitavelmente às mesmas conclusões falsas. Exatamente os mesmos argumentos serão retomados para justificar o novo rito de Paulo VI: retorno às origens, adaptação pastoral, etc.
 
A exemplo de Jounel (“tem um outro espírito”) e Elhinger (“sustentado por um espírito”), Mons. Piero Marini, Mestre das Cerimônias do atual Soberano Pontífice [ndr: referência ao cerimoniário do então Papa João Paulo II, discípulo de Annibale Bugnini que hoje chefia oinexpressivo Comitê Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais], afirmava em 1995 na revista Ephemerides liturgicae n° 109, que o rito Romano tradicional e o rito de 1965 não tinham o mesmo espírito: “No que diz respeito ao espírito, não se encontra o Ritus servandus de 1570 no de 1965”. 22 Pode-se objetar que o espírito não é nada em relação ao texto. Basta, no entanto, constatar a diferença que há entre o Vaticano II e o “espírito do Vaticano II”: é em nome deste “espírito” que tudo foi abalado na Igreja já há trinta anos 23. Do mesmo modo, há o rito de 1965 em si mesmo e há o espírito que o sustenta. Constatamos, por outro lado, que os textos precedentes não podem senão invalidar a tese, largamente difundida em certos “reformadores da reforma”, segundo a qual o rito de 1965 é o fruto definitivo da constituição conciliar sobre a liturgia e que todo o mundo foi surpreendido pela promulgação do novo missal em 1970. Bastaria, com efeito, ler os livros de apresentação e explicação do rito de 1965 (como os citados acima), bem como as revistas eclesiásticas da época para se dar conta.
 
O Concilium trabalhava desde 1964 na reforma completa dos livros litúrgicos. Não ficou parado em 1965. De fato, a divulgação na imprensa da missa experimental do Padre Jounel (Cf. nota 14) atrasou qualquer outra reforma imediata da missa 24. Todavia, os membros do Concilium prosseguiram seus trabalhos de modo que no Sínodo Romano de 1967 fosse apresentada a “missa normativa” que, apesar de rejeitada por aquela assembléia, seria mantida e promulgada após algumas mudanças menores. Passemos, agora, às reformas implementadas no rito de 1965 25:

1) No Ordo da missa em geral:

a)Supressão do salmo Judica me no início da missa.
b)O último Evangelho é suprimido.
c)As orações recitadas ou cantadas pela schola ou pelo povo não são mais rezadas em particular pelo celebrante. 
d)Introdução da oração universal no início do ofertório.
e)Na missa solene, o subdiácono não segura a patena, que permanece sobre o altar. Não utiliza, por conseguinte, mais o véu umeral para levar o cálice da credência ao altar no início do ofertório. Não segurando mais a patena durante o Cânon, o subdiácono incensa a hóstia e o cálice durante a elevação, como nas missas de Requiem.
f) A incensação do clero é simplificada: todas as ordens, com exceção da ordem episcopal, são confundidas e incensadas em uma só vez para cada lado do presbitério.
g)O celebrante não é mais incensado pelo diácono após o Evangelho.
h) No Credo, não se ajoelha mais no “Et incarnatus est ... et homo factus est”.
i) Canta-se a secreta na missa cantada, e nas outras missas, reza-se em voz alta.
j) A doxologia no fim do Cânon é cantada ou rezada em voz alta, os sinais da cruz são suprimidos e, ao fim, o padre faz a genuflexão apenas após o Amem do povo.
l) O Pai Nosso pode ser recitado ou cantado pelo povo juntamente com o celebrante 26.
m) O Liberas nos após o Pater é rezado em voz alta.
n) Ao distribuir a Sagrada Comunhão, emprega-se a breve fórmula Corpus Christi. Em seguida, o celebrante dá a Comunhão sem fazer o Sinal da Cruz com a hóstia.
o) O Padre é autorizado a celebrar a missa cantada com a assistência exclusiva do diácono, sem o subdiácono.
p) É permitido aos bispos celebrar a missa cantada ao modo de simples padres.
q) O padre se persigna não mais que três vezes, pois as persignações seguintes foram suprimas: Adjutorium nostrum, Intróito, fim do Gloria, fim do Credo, Sanctus e Libera nos.
r) O celebrante, qualquer que seja a missa (cantada, solene, baixa), preside de sua sede a “liturgia da palavra”, como o faz o bispo quando celebra pontificalmente ao trono. Após a incensação do início da missa, ele retorna ao altar apenas no ofertório.
s)Os beijos litúrgicos foram suprimidos pela Instrução Inter Oecumenici.
t) Devido igualmente à Instrução Inter Oecumenici, a missa pode ser dita voltada para o povo 27.
u) O acólito não levanta mais a casula do celebrante nas duas elevações.
v) O acólito não toca mais a sineta no Sanctus e no Per Ipsum.
x) A Comunhão sob duas espécies foi introduzida, podendo os fiéis, doravante, comungar de pé 28.

CONTINUA...

FRATRES IN UNUM

terça-feira, 16 de agosto de 2011

HERESIA - A trivialidade contra o sagrado na Bélgica: “Chegamos a uma fase da história em que não aceitamos que o padre tenha que ser o intermediário. Queremos nos encarregar dos batismos e da comunhão”.

IHU – Willy Delsaert (foto) é um ferroviário aposentado com dislexia que praticou muito antes de enfrentar a paróquia católica suburbana Dom Bosco para celebrar os rituais da Missa Dominical com os quais ele cresceu.
A reportagem é de Doreen Carvajal, publicada no jornal The New York Times, 16-11-2010. 


A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Quem toma este pão e come”, murmurou ele, quebrando uma hóstia com a sua esposa ao seu lado, “declara o desejo de um mundo novo”. Com essas palavras, Delsaert, 60 anos, e seus amigos paroquianos, discretamente, estão sendo os pioneiros de um movimento de base que desafia séculos de doutrina da Igreja Católica Romana acerca do culto divino e da distribuição da comunhão sem um sacerdote.

Dom Bosco é uma das cerca de dez igrejas católicas alternativas que surgiram e cresceram nos últimos dois anos nas regiões de língua holandesa da Bélgica e da Holanda. Elas são uma reação inquietante a uma combinação de forças: uma escassez de padres, o fechamento de igrejas, a insatisfação com as nomeações do Vaticano de bispos conservadores e, mais recentemente, a consternação diante do encobrimento de abusos sexuais cometidos por padres.

As igrejas são chamadas de ecclesias, palavra derivada do verbo grego para “convocação”. Cinco delas começaram no ano passado na Holanda por católicos que se afastaram de suas paróquias existentes, e outras estão sendo planejadas, disse Franck Ploum, que ajudou a iniciar uma ecclesia em janeiro, em Breda, na Holanda, e está organizando uma conferência em rede para os grupos dos dois países.

Nestas igrejas do sudoeste de Bruxelas, os homens e mulheres são treinados como “condutores”. Eles presidem missas e os marcos da vida: casamentos e batismos, funerais e ritos finais. Os membros da Igreja assumiram-na há mais de um ano, quando o seu pároco se aposentou, sem deixar um sucessor. Na Bélgica, cerca de dois terços do clero tem mais de 55 anos, e um terço tem mais de 65 anos.

“Estamos resistindo um pouco como Gandhi“, disse Johan Veys, ex-padre casado que realiza batismos e recrutas os recém chegados para outras tarefas na paróquia de Dom Bosco. “Nossa intenção não é criticar, mas viver corretamente. Nós pressionamos quietamente, sem muito barulho. É importante ter uma comunidade onde as pessoas se sintam em casa e possam encontrar paz e inspiração”.No entanto, eles parecem estar em rota de colisão com o Vaticano e a Igreja Católica da Bélgica. A Igreja belga foi surpreendida por um escândalo de abusos sexuais com 475 vítimas, e pela renúncia do bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, que em abril passado admitiu ter molestado um menino durante anos, que depois se descobriu ser seu sobrinho.Na visão de Roma, apenas padres ordenados podem celebrar missa ou presidir a grande maioria dos sacramentos, como o batismo e o casamento. “Se há pessoas ou grupos que não observam essas normas, os bispos competentes – que sabem o que realmente acontece – têm que ver como intervir e explicar o que está em ordem e o que está fora de ordem, se alguém pertence à Igreja Católica” disse o Pe. Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa do Vaticano.

“Práticas inaceitáveis”
O primaz da Bélgica, o arcebispo André-Joseph Léonard, de Malines-Bruxelas, já levantou objeções aos serviços alternativos, chamando-os de “práticas inaceitáveis”. Mas se recusou a responder às perguntas, mantendo o compromisso de manter silêncio até dezembro. Ele foi envolvido em uma polêmica neste mês depois de ter criticado o julgamento civil de sacerdotes idosos por atos de pedofilia como uma “vingança” e ter descrito a Aids como “uma espécie de justiça inerente” para atos homossexuais promíscuos.

Para alguns católicos do movimento das ecclesias e acadêmicos da Universidade Católica de Louvain, Dom Léonard representa uma Igreja remota desconectada de um rebanho que anseia por rituais mais relevantes e participação ativa. “Alguma coisa está começando a rachar”, disse o Pe. Gabriel Ringlet, ex-vice-reitor da Universidade Católica de Louvain, que está pensando em abandonar o termo “Católica” de seu nome. “Acho que a Igreja Católica belga está começando a sentir algo de excepcional, pela primeira vez em 40 anos. Muitos católicos estão acordando e se manifestando”. 

Em Bruges, cidade no centro do escândalo da pedofilia da Igreja, um grupo católico alternativo chamado De Lier aborda os escândalos da Igreja em seus serviços semanais. De Lier – A Lira, em holandês – realiza cultos semanais em uma capela escolar com uma rotação de dois homens, duas mulheres e um padre. Nos serviços recentes, os membros da igreja leram trechos de um relatório de uma comissão da Igreja belga que examinou o estado das vítimas de abusos sexuais de menores. Eles manifestaram a vergonha de uma Igreja que silenciou as denúncias de abuso sexual e que usou uma linguagem advocatícia para evitar pedir desculpas.
Eles também simplificaram e personalizaram os rituais, enfatizando a importância da comunidade. Normalmente, eles se reúnem em torno de uma mesa com taças de cerâmica para o vinho e um pão redondo, e os membros são convidados a contar a história de suas alegrias e tristezas da semana anterior.

“Estamos procurando formas de viver a fé de uma forma moderna”, disse Karel Ceule, membro do Lier. “Se você olhar para a crise atual com o arcebispo Léonard, ele é um símbolo de uma Igreja velha e conservadora. Em Flandres, isso não funciona mais. Chegamos a uma fase da história em que não aceitamos que o padre tenha que ser o intermediário. Queremos nos encarregar dos batismos e da comunhão”. 

Alguns bispos na Holanda e na Bélgica estiveram discretamente coletando informações sobre as Igrejas alternativas e reunindo-se com alguns dos seus membros. Pedro Rossel, porta-voz de Jozef De Kesel, o novo bispo de Bruges, disse que o prelado tinha conhecimento dos grupos, mas não os visitaria em breve. “Agora, ele tem outras prioridades. Ele tem muitos problemas com a questão dos abusos sexuais”, disse Rossel. Enquanto isso, membros desses grupos dizem que não guardam segredo do que estão fazendo, especialmente se acontecerem mudanças por causa da falta de padres. “Se você perguntar para a diocese oficialmente sobre isso, eles vão lhe dizer que você não pode fazer isso”, disse Bart Vanvolsem, membro da paróquia Dom Bosco. “Eles dizem que se não há padre, não há missa. Mas Cristo está aqui”.

Nos estágios iniciais da Dom Bosco, algumas pessoas reclamaram que os serviços demoravam muito. Outros se incomodavam com a intimidade da reunião ao redor de uma longa mesa de madeira. Alguns membros não queriam liderar um culto. “Eu ainda sou muito tradicional para fazer isso”, disse Barbara Birkhölzer-Klein. “O que está acontecendo aqui é totalmente natural, mas eu ainda não posso fazer isso”. Delsaert não tinha esses receios. Ele vestia uma estola com as cores do arco-íris e trazia suas anotações. “É a segunda vez”, disse ele. “Para mim, é muito intenso. Ler é muito difícil para mim, porque eu tenho dislexia”. Quase 150 pessoas se reuniram ao seu redor para um encontro organizado por membros adolescentes que escolheram o tema da paz e da música de John Lennon e de Paul McCartney.

Delsaert fez um sermão simples que remontou aos seus anos como ferroviário, exortando os paroquianos a promover a paz, conversando com as pessoas em suas vidas diárias. Ao dizer “oi” para um usuário diário dos trens, disse Delsaert, “esse homem se abriu para conversar sobre os atrasos dos trens”. “Ele parecia muito mais feliz”, contou. Durante o serviço, os adolescentes ficaram ao redor da mesa, enquanto uma declaração paroquial foi lida em voz alta: “Lamentamos a dor causada pelos padres e pelos responsáveis da Igreja. Lamentamos os danos às vítimas, à comunidade e à nossa Igreja”. Depois, uma moça acendeu uma vela com as cores do arco-íris no centro da mesa. A trêmula chama foi acesa em memória às 475 vítimas belgas de abuso sexual.

Carta do Padre Leonardo Holtz a Dom Orani João Tempesta.

PS.: EU TIVE A GRAÇA DE CONHECER ESTE SANTO PADRE E FALAR COM ELE POR TELEFONE, ELE É UM HOMEM MUITO BOM E SANTO. OBRIGADA MEU DEUS, POR TAMANHA ALEGRIA...


“É, porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1,10)


Excia. Rev.ma

Dom Orani João Tempesta, O.Cist.,

Arcebispo do Rio de Janeiro

Pax!

Há muito que desejo dirigir a V. Excia. estas palavras, mas não julguei ter ainda chegado a hora. Sei que V. Excia. já tem muitos assuntos com o que se ocupar e lamento profundamente ter que trazer mais um peso a V. Excia., contudo, era necessário que eu o fizesse, pois o que está em jogo é a minha vocação Sacerdotal e, até mesmo, a minha fé católica e a eterna salvação de minha alma. Afinal, “de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?” (Mt 16,26). D. Orani, preciso deixar a Arquidiocese do Rio de Janeiro e, desta vez, será definitivamente. Peço que V. Excia. não me julgue sem conhecer meus motivos. Tenho atualmente trinta anos de idade e seis de ministério Sacerdotal. Vejo com clareza e profunda tristeza a terrível crise que se instaurou na Santa Igreja e, principalmente, no clero de uma forma geral. A disciplina eclesiástica foi deixada de lado e o que vigora hoje é um relativismo que arrefece a fé. Perdemos fiéis, as vocações estão diminuindo… Por quê? Simples: porque o jovem deseja encontrar na vida religiosa aquilo que ele não encontra na vida secular. Mas hoje se vê os religiosos agindo como os seculares, então, muitos jovens chegam à seguinte conclusão: não preciso ser um religioso para fazer o que os religiosos de hoje em dia fazem! Por que muitas congregações religiosas de hoje não tem mais vocações? Vamos culpar os “tempos modernos”? Vamos dizer que “os jovens de hoje não querem mais compromisso” como os jovens de outrora? Por que nossas paróquias e santuários estão repletos de fiéis nas missas (especialmente nas missas-show), mas as pastorais estão vazias? Por que nossos fiéis não sabem mais o catecismo? Por que as quadras de samba e as praias estão muito mais bem freqüentadas do que nossas paróquias? Creio que muitos saibam as respostas dessas perguntas, mas muito poucos tem a CORAGEM de admitir, pois é muito mais confortável colocar remendos do que derrubar tudo e reconstruir.


Ingressei no Seminário Arquidiocesano de São José aos 12 dias do mês de Fevereiro de 1997. Tinha acabado de completar 17 anos no dia anterior. Recebi a investidura da batina uma semana antes de Cinzas. Que dia feliz! Recebemos a batina numa cerimônia bonita que foi feita pelo padre Reitor, mas logo que acabou a cerimônia tivemos que tirá-la e guardá-la no armário. Sempre me faço uma pergunta: Exatamente para que o nosso Seminário mantém uma cerimônia de recepção de batinas, se ninguém pode usá-la depois como seu hábito cotidiano e sim como um paramento ocasional? Sabe, D. Orani, eu sempre gostei de vestir minha batina. Sei que eu não era muito bem visto no seminário por causa disso. Eu não usava batina direto dentro do seminário, em parte para não causar problemas com meus superiores, e em parte por escrúpulo e respeito humano. Há muitos que dizem o famigerado bordão “o hábito não faz o monge”, o que é uma bela desculpa para a indisciplina dos padres de hoje. O mais interessante é que não vemos uma muçulmana sem a burca, ou uma “mãe-de-santo” sem seus trajes ou mesmo um militar em serviço sem seu uniforme, mas nossos clérigos insistem em se apresentar como leigos. É claro que se nem os padres dão o exemplo, como os fiéis vão poder se portar bem? Tenho que suportar as mulheres mal vestidas, os decotes e mini-saias dentro da igreja. Isso para não falar que destruíram o piedoso uso do véu. Reina a vaidade! Os homens não ficam atrás. Deus sabe como tenho vontade de negar a Santa Comunhão aos homens que vem de bermuda à Igreja. A Santa Batina é o manto sagrado de Nosso Senhor que nos protege de muitos males, sem falar que para nós, religiosos, ela é um constante lembrete de nossa consagração e um excelente exercício da virtude da humildade e de mortificação. Nosso Senhor já dizia: “o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41). Quanto bem a batina pode fazer ao sacerdote! Um sacerdote de batina necessariamente vai ponderar melhor seus atos; não pode freqüentar todos os ambientes; deve conter os olhares curiosos, as palavras ociosas, as excessivas familiaridades. Ele deve portar-se bem SEMPRE, pois, carrega consigo a Imagem da Igreja, Esposa do Cordeiro, sem ruga e sem mancha. Depois do Concílio foi feito um trabalho de “destruição” da imagem do sacerdote. Querem convencer os católicos (e o mundo inteiro) de que o padre é um homem comum e que, portanto, deve se vestir como um homem comum. Disseram-me no seminário certa vez que o Concílio permitiu que os padres tirassem a batina para “facilitar o ministério pastoral, pois vestindo uma veste comum, isso facilitaria a entrada do padre em ambientes hostis à fé para que lá ele pudesse exercer o apostolado”. Quanta ingenuidade (para não dizer leviandade)! Que sutil armadilha do demônio! Se isso fosse verdade as praias, as boates, casas noturnas masculinas (gls), as casas de show eram para estar mais que evangelizadas! Que diriam os jesuítas europeus que enfrentaram o calor, a mata, os mosquitos e outros contratempos na evangelização da América Latina? E sem tirar seu hábito! Por acaso eles ficaram nus para “dialogar” com os índios? Depois nós “choramos o leite derramado” quando surgem os escândalos que mancham e envergonham o nome da Santa Igreja. De que adianta Sua Santidade, Bento XVI, pedir perdão às vítimas dos abusos de pedofilia se ele, que tem o poder das chaves, não impõe uma disciplina mais rígida aos padres e não exige uma seleção mais severa e uma formação mais sólida nos seminários? Será que se esses padres recebessem uma boa formação, se alguém lhes tivesse falado de sacrifício, mortificação, vida espiritual, se alguém tivesse ensinado a eles que o ministério que receberam é sublime demais e que eles, sem ser diferentes dos demais homens, não são exatamente iguais, será que teríamos tantos escândalos? É triste, D. Orani, mas hoje temos de tudo: padres cantores, psicólogos, jornalistas, artistas, mas temos poucos padres PADRES! Encontramos padres em todos os ambientes hoje, mas, se bobearmos, só não os achamos nas paróquias. Soube que existe um padre que não rezava a Missa da primeira sexta-feira do mês em sua paróquia; as senhoras do Apostolado da Oração para obrigá-lo a rezar a Missa, fazem uma “vaquinha” todo mês e lhe dão uma espórtula. Isso porque ele afirma que só celebra durante a semana se houver intenções marcadas. Mas, mediante uma espórtula, abre-se uma exceção. Não vou consertar o mundo, Excelência, mas fico perplexo com tanta hipocrisia!


No meu segundo ano de seminário, eu estava retornando da minha pastoral dominical e estava usando minha batina. Encontrei-me na rua com um padre formador. O cumprimentei. Ele me olhou, mas não acenou e nem fez o menor sinal de retribuição. Quando cheguei ao seminário, recebi um recado de que o próprio queria me ver. Fui até o padre e ele me segurou pelo braço, com agressividade e, me machucando, perguntou por que eu estava de batina na rua. Me disse coisas horríveis, disse-me que eu gostava de “aparecer” e que eu era um “carreirista”. Que atitude paternal, não? Digna de um formador de seminário! Um homem emocionalmente desequilibrado, metido a psicólogo, com uma psicologia de porta de banheiro, formando os futuros padres da nossa Arquidiocese! E pior: esse senhor, ainda por cima, é um herege! Ele afirmava com todas as letras que a Santa Missa é apenas um “culto de louvor” e não um sacrifício. Certa vez, após o ofertório, ele disse: “Orai irmãos para que o nosso culto de louvor seja aceito por Deus Pai todo-poderoso”, eu me levantei me retirei da capela na mesma hora. Ele foi atrás de mim logo depois para me perguntar por que eu saí da capela no meio da Missa. Eu respondi: “Não, padre, eu não saí no meio da ‘Missa’, mas sim no meio do ‘culto de louvor’. Se fosse a Missa eu teria ficado na capela”. O mesmo sacerdote afirmava também que os Sacramentos não são sete, mas que são muito mais. Quando ele afirmou isso em sala de aula eu, perplexo, levantei a mão e perguntei: “mas se o senhor perguntar na prova e eu responder o que eu aprendi no catecismo, que os sacramentos são SETE, o senhor vai me descontar pontos?” Ele mandou que eu me retirasse da sala de aula.


Sempre ouvia as histórias de minha avó que dizia que no tempo dela a Missa era em latim e que o padre ficava de costas aos fiéis, mas eu não tinha a menor noção do quanto tinham mudado a Santa Missa. Na minha cabeça pueril tratava-se apenas de uma questão estética e lingüística. Como eu estava enganado! Esse assunto no seminário era uma espécie de TABU. Simplesmente não se falava. Foi, então, numa bela tarde que a Graça Divina me conduziu à biblioteca do seminário e ali encontrei um belo livro vermelho, grande, antigo e a lombada trazia em dourado as palavras MISSALE ROMANUM. Pesquisei um pouco, mas não reconheci aquela Missa. Por isso, retirei o Missal e o levei direto ao meu diretor espiritual para fazer algumas perguntas. As únicas respostas que obtive foram: “Sim isso é um Missal antigo” e, logo depois, “coloca aonde você pegou”. Encontrei na mesma sessão os breviários, os rituais e fiquei encantado. Mas afinal, porque a Missa tinha mudado? Por que tudo aquilo estava ali abandonado? E comecei a pesquisar cada vez mais. Mas, quando alguém percebeu meu repentino interesse (e o de alguns outros colegas) pelos livros tradicionais, misticamente, um belo dia, a estante inteira DESAPARECEU. Ainda assim conseguimos salvar um antigo breviário com o qual eu e mais dois rapazes nos reuníamos à noite (escondidos) para rezar as Completas no rito de S. Pio V, com medo de sermos vistos como se estivéssemos fazendo algo proibido ou vergonhoso. Fico muito triste de constatar que hoje se fala tanto em “liberdade religiosa” e de “diálogo”, mas quando se fala em Concílio de Trento aí todo o diálogo desaparece. Há uma profunda aversão a tudo o que é antigo; há uma sede insaciável de novidade.


Outra coisa que me deixava furioso dentro do seminário era aquela SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS. Sempre achei isso uma aberração! Como pode um bando de protestantes hereges serem convidados a pregar dentro de um seminário católico? O mais engraçado da história (para não dizer ‘trágico’) é que se retirava o Santíssimo Sacramento do Sacrário e as imagens de Nossa Senhora e S. José também iam parar na sacristia. Mas se o protestante está vindo na MINHA CASA eu tenho que tirar as imagens e o Santíssimo Sacramento por que? Eu preferia, nessas ocasiões, me retirar e ficar no meu quarto a presenciar aquilo. Não entendo o ecumenismo. Não o entendo por que isso NUNCA nos levou a lugar algum! Diziam que essa postura iria ajudar a trazer os hereges e os apóstatas à verdadeira fé, mas o que temos visto é mais e mais apostasia. Quantos fiéis não abandonaram a fé e se uniram a essas seitas? Contra fatos não há argumento e o FATO é que após o Vaticano II e seus movimentos ecumênicos as seitas triplicaram como um estouro da boiada!


Também me incomodava o fato de que leigos estudavam filosofia e teologia com os seminaristas; mulheres participavam da vida cotidiana dos seminaristas… muito impróprio. E os “passeios” das turmas e as “convivências” em Itaipava? Eram ótimas ocasiões onde os seminaristas mostravam REALMENTE quem eram; as músicas que se ouviam, as letras que se cantavam, as palavras ociosas, as brincadeiras nem sempre inocentes e sem segundas intenções… ali já estava um retrato do clero que viria depois: gente que tem SIM suas qualidades humanas, mas que não receberam uma formação que os ajudasse a se exercitar nas virtudes que um sacerdote deve ter. Tinha colegas que ficavam inquietos e impacientes nas Missas, ofícios e outras orações na capela do seminário. Alguns resmungavam (de forma audível) torcendo para que os ofícios terminassem logo. Nunca entendi bem aquilo. Se a pessoa não gosta de rezar, se tem pressa que o ofício termine, vai ser padre pra quê?

Não sou nenhum santo, D. Orani, mas sempre tive consciência da grandeza que é o ministério Sacerdotal, mesmo quando dava meus passos errados. Ainda os dou muitas vezes, mas me confio no Sacramento da Confissão e nos exercícios de mortificação e luto para tentar ser um sacerdote santo.


Em 2001 fui Ordenado Diácono por Dom Eusébio, mas sempre tive o desejo de ser Ordenado no Rito Tradicional. Dom Eusébio sabia disso, pois eu mesmo disse a ele. Como naquele período as negociações entre Campos dos Goytacazes (RJ) e a Santa Sé tinham acabado de acontecer, fui a Campos conversar com Dom Fernando Arêas Rifan, bispo da Administração Apostólica Pessoal S. João Maria Vianney. Tinha intenção de pedir transferência para a Administração Apostólica. Mas voltei de lá muito triste, na verdade, decepcionado! Dom Rifan me disse: “É melhor o senhor ficar onde está. Quem sabe com o seu pensamento tradicional o senhor não possa ser uma influência positiva para o clero carioca?” (Sic!) Não entendia como ele podia rejeitar um padre tradicional já que havia tão poucos.


Bem, como Diácono, ninguém podia me impedir de usar a batina em tempo integral, afinal eu já era oficialmente um clérigo. Mas D. Eusébio me chamou para conversar e me pediu que eu a tirasse. Tentei argumentar com o Cânone 284, mas, ainda assim, ele mandou que eu tirasse a batina para “ficar igual aos outros”. É claro que, por obediência, eu a retirei. Dom Eusébio ainda me disse que eu deveria ter algum problema de ordem psicológica e determinou que eu fizesse sessões de terapia com Dom Wilson Tadeu Jönk, que é psicólogo, o que foi, obviamente, uma grande perda de tempo tanto para mim, quanto para o bispo. Sempre no final das sessões, deixávamos marcada a próxima. Certa vez Dom Wilson marcou numa terça-feira de carnaval. Eu disse a ele “Mas é uma terça de carnaval!” e ele me respondeu: “Eu não vou sair no bloco, você vai? Se não vai, então não vai encontrar problemas de vir até o palácio”. Todo mundo que me conhece sabe como eu detesto sair à rua nos dias de carnaval, primeiramente por medo da violência e depois porque as pessoas me vêem de batina e pensam se tratar de uma fantasia ridícula de carnaval. Mas eu fui assim mesmo. NUNCA vou me esquecer desta cena: cheguei ao palácio e Dom Wilson estava numa salinha do segundo andar com as pernas apoiadas numa mesinha de centro assistindo TV. Tinha se esquecido por completo do nosso encontro e disse que não era um dia apropriado para fazer isso, que eu deveria ter me enganado. Senti-me muito humilhado, mas ofereci isso como sacrifício a Nosso Senhor pela conversão do clero (dele em especial). Tanta gente fazendo coisa errada (desvio de dinheiro, problemas morais seríssimos) e o arcebispo perdendo tempo com um diácono só porque ele queria ser um padre que reza a Missa de Trento? Francamente! Nosso Senhor estava absolutamente certo quando disse: “Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.” (Mt 23,24).


Fui Ordenado Sacerdote em 17 de Abril de 2004. Fui logo de cara enviado como coadjutor numa paróquia onde o pároco era muito grosseiro com o povo e os fiéis tinham se afastado em sua maioria. A desculpa dada era “porque ele era velho”. Então todo velho tem que ser grosseiro e mal-amado? Ele queria a todo custo que eu imitasse os abusos que ele introduzia na Missa (ele tinha mania de apagar as luzes da igreja e acender uns holofotes coloridos na hora da consagração) ao que eu disse: “reze a Missa do jeito que o senhor quiser, mas eu a rezarei como está no Missal!” Parece que os senhores bispos tem um enorme problema em transferir párocos que estão há muitos anos numa comunidade, mesmo que estes estejam fazendo um mal monumental às almas e afastando os fiéis da Igreja. Os bispos conseguem ter pena de UM, mas são incapazes de ver que MUITOS estão a sofrer por causa daquele um. Fui transferido para outra paróquia, para ser coadjutor de um sacerdote mais jovem. Fui bem recebido pelo pároco. Cheguei no dia exato em que estava acontecendo o tradicional mutirão de confissões preparatórias para a Páscoa. Atendemos até 1 hora da manhã mais ou menos. Após o jantar os padres foram embora e, quando só restamos nós dois, então conversamos. Ele me perguntou se eu tinha gostado da comunidade, e, então, me disse: “Bem, seja bem-vindo aqui então. Vou logo te avisando, eu quero um coadjutor aqui pra trabalhar. 

O que você vai fazer com seu tempo pessoal é problema seu desde que você cumpra suas obrigações. Você não vai morar comigo aqui na casa paroquial. Temos uma capela que tem sua casa própria. Vou te dar as chaves e você vai morar lá. Assim, se você quiser, pode ter suas visitas íntimas; Só toma cuidado para não arrumar um filho.” Chorei o resto da madrugada inteira. Chorei, D. Orani, por que me lembrei das palavras de Nosso Senhor ao Santo Padre Pio falando sobre os sacerdotes: “Vede como me tratam como açougueiros?”. Uma vez, num sábado, eu estava sentado ao confessionário e deveria ter umas dez pessoas na fila. O Pároco chegou de repente e pediu que as pessoas voltassem outro dia, porque ele precisava muito de mim. Os fiéis foram embora e eu o ajudei a fechar a igreja. Perguntei então aonde íamos e que tipo de ajuda ele precisava de mim. Quando ouvi a resposta fiquei estarrecido, não acreditava no que eu estava ouvindo: “preciso que você vá à concessionária comigo para me ajudar a escolher meu carro novo”. Pena que muitos padres não acreditem mais no castigo dos Céus, porque ele veio: exatamente uma semana depois ele capotou com o carro novo na Avenida Brasil. Graças a Deus não se feriu gravemente, mas o carro deu perda total!


Em 2007 pedi a Dom Eusébio que me permitisse fazer uma experiência no recém-criado IBP (Instituto Bom Pastor). Fui então para S. Paulo e morei lá um pouco tempo. A convivência lá era muito boa, contudo, o que garantia a permanência do IBP em São Paulo, era o apoio econômico do Professor Orlando Fedeli e da sua Associação Cultural Montfort. Chegou um período que os padres e os seminaristas que lá estávamos, julgamos que a Montfort influenciava muito dentro do seminário e que se fazia necessária uma clara distinção entre as duas instituições: Montfort e IBP. Aliás, nós padres, muitas vezes sentíamos que só servíamos para ministrar sacramentos e mais nada. Até nossos sermões foram muitas vezes submetidos a julgamentos. Outro fato que me levou a desacreditar no IBP foi que o superior geral, o Padre Phillipe Laguérie, que deveria tomar uma medida firme para diminuir a influência da Montfort dentro da casa do IBP, não o fez, sobretudo depois de uma visita do Prof. Fedeli a Bordeaux (França) e uma conversa com Pe. Laguérie. Bem, um superior geral que não toma medidas firmes e se deixa vencer pelo respeito humano não é digno da minha confiança. Por esses e outros motivos, retornei ao Rio de Janeiro.


Vim para a Paróquia Bom Pastor, inicialmente como coadjutor do meu irmão e, depois, como Pároco. Mas estou numa terrível crise de consciência desde então. D. Orani. Juro ao senhor que eu tentei de TUDO para me enturmar com o clero daqui. Pensei comigo mesmo “E se eu estiver sendo rígido demais? E se eu tentasse ser mais maleável para tentar me enturmar melhor?” Fiz muitas tentativas para me entrosar com o restante do clero. Tirei minha batina e o senhor sabe muito bem disso. O senhor mesmo já me viu sem batina algumas vezes… Cedi muitas vezes, me calei muitas vezes quando eu não concordava com algo; como dizia São Paulo: “fiz-me tudo para todos na esperança de salvar alguns” (1Cor 9,22). Mas descobri uma coisa: cheguei à conclusão de que com o MODERNISMO não existe diálogo! É inútil! É o mesmo que “pôr um remendo novo em roupa velha” (cf. Mt 9,16). Eu abri mão do que é justo, bom e honroso, mas não há reciprocidade… ninguém ficou mais tradicional nem obedeceu mais à disciplina da Igreja por causa disso. No final, eu é que estava virando um progressista! Ouvi este sábio pensamento uma vez: Dez laranjas boas não CURAM uma que está podre, mas é precisamente a ÚNICA PODRE que vai contaminar TODAS as outras dez. Coisas ruins sempre se aprende com mais rapidez e facilidade que as coisas boas. Destruir é bem mais rápido que (re)construir. É por esse motivo que eu não posso mais ficar aqui, D. Orani. Não pense que faço isso sem dor na consciência. Mas chegou a hora (e já até passou) de eu deixar de lado o respeito humano e dizer o que eu realmente penso e ficar em paz com minha consciência.


Primeiramente, como católico, eu não estou obrigado a aceitar o Concílio Vaticano II, uma vez que este foi um concílio pastoral e não um concílio dogmático. 

- Quanto à Missa, não nego a validade da nova missa, contudo afirmo que ela é ambígua e não expressa, como a de S. Pio V, os principais dogmas católicos. Confesso que celebro com muita relutância a missa segundo o Novus Ordo (de Paulo VI). Não posso aceitar o ofertório do Novus Ordo que é uma berakah judaica. É claramente uma ceia e não um sacrifício! Há muito tempo que eu o substituo pelo Ofertório Tradicional. Faço esta e outras modificações para que a missa nova seja o mais suportável possível para mim e possa expressar o mais possível os nossos dogmas de fé. Contudo isso me incomoda muitíssimo, pois sei que não tenho a graça de estado para modificar um rito. Mas em consciência, não posso continuar a celebrar esse rito!


- Também quanto aos Sacramentos (Batismo, Confissão, Matrimônio e Extrema Unção) e o Breviário eu faço no rito antigo já faz algum tempo.


- Não compreendo e não aceito a concelebração eucarística! Enfim, D. Orani, minha presença aqui mais atrapalha do que ajuda esta Arquidiocese. E atrapalha também a mim e ao meu crescimento espiritual, pois é muito cansativo viver num eterno conflito. Cada reunião do clero é uma nova batalha. Tenho evitado ir às cerimônias e encontros da Arquidiocese, pois assim eu peco menos. Fui ao aniversário de 90 anos de Dom Eugênio exclusivamente para pecar: “você meu amigo de fé, meu irmão camarada” cantado para um Cardeal, durante a Santa Missa numa Catedral? Elba Ramalho cantando “Asa Branca” no presbitério? Desculpe, Dom Orani, é demais para mim. Perdoe meu desabafo. Desculpe o transtorno. Não me queira mal. Sinto-me uma ave solitária aqui… pelo menos se eu for, poderei ajuntar-me ao bando dos de minha espécie.


Estou me unindo à Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX). Devo passar algum tempo no seminário na Argentina para refazer algumas matérias da Teologia (principalmente da teologia moral que é muito fraca no seminário do Rio) e, depois seguir, como missionário, onde os senhores bispos da Fraternidade me enviarem. Não me tome por cismático e nem herege. Afinal, como Mons. Lefèbvre dizia: “não fundamos uma religião nova, não criamos novos sacramentos, não criamos uma nova missa, não inventamos liturgia própria, apenas queremos conservar, seguir e ensinar aquilo que a Igreja SEMPRE ensinou”.


Mais uma vez peço perdão pelo transtorno e humildemente peço vossa bênção e vossas orações.


In Iesu et Maria,


Rio de Janeiro, 25 de Janeiro de 2011


Festa da Conversão de São Paulo









Pe. Leonardo Holtz Peixoto

NÃO TRATE OS LOBOS COMO OVELHAS PERDIDAS!



A doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo está cheia de verdades aparentemente antagônicas que, entretanto, examinadas com atenção, longe de reciprocamente se desmentirem, reciprocamente se completam formando uma harmonia verdadeiramente maravilhosa. É este o caso, por exemplo, da aparente contradição entre a justiça e a bondade divinas. Deus é ao mesmo tempo infinitamente justo e infinitamente misericordioso. Sempre que para compreendermos bem uma destas perfeições fecharmos os olhos a outra, teremos caído em grave erro. Nosso Senhor Jesus Cristo deu, em Sua vida terrena, admiráveis provas de Sua doçura e de Sua severidade. Não pretendamos “corrigir” a personalidade de Nosso Senhor segundo a pequenez de nossas vistas, e fechar os olhos à suavidade para melhor nos edificarmos com a justiça do Salvador; ou pelo contrário fazermos abstração de Sua justiça para melhor compreendermos Sua infinita compaixão para com os pecadores. Nosso Senhor se mostrou perfeito e adorável tanto quando acolhia com perdão inefavelmente doce Maria Madalena, quanto quando castigava com linguagem violenta os fariseus. Não arranquemos do Santo Evangelho quaisquer destas páginas. Saibamos compreender e adorar as perfeições de Nosso Senhor como elas se revelam em um e outro episódio. E compreendamos enfim que a imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo por nós só será perfeita no dia em que soubermos, não apenas perdoar, consolar e afagar, mas ainda no dia em que soubermos flagelar, denunciar e fulminar como Nosso Senhor. 
Há muitos católicos que consideram os episódios do Evangelho em que aparece o santo furor do Messias contra a ignomínia e a perfídia dos fariseus como coisas indignas de imitação. É ao menos o que se depreende do modo de que eles consideram o apostolado. Falam sempre em doçura, e procuram sempre imitar essa virtude de Nosso Senhor. Que Deus os abençoe por isto. Mas por que não procuram eles imitar as outras virtudes de Nosso Senhor? Muito freqüentemente, quando se propõe em matéria de apostolado um ato de energia qualquer, a resposta invariável é de que é preciso proceder com muita brandura “a fim de não afastar ainda mais os NÃO CONVERTIDOS”. Poder-se-á sustentar que os atos de energia têm sempre o invariável efeito de afastá-los? Poder-se-ia sustentar que Nosso Senhor, quando dirigiu aos fariseus suas invectivas candentes, fê-lo com a intenção de afastá-los ainda mais? Ou porventura se deveria supor que Nosso Senhor não sabia ou não se preocupava com o efeito “catastrófico” que suas palavras causariam aos fariseus? Quem ousaria admitir tal blasfêmia contra a Sabedoria Encarnada, que foi Nosso Senhor?
Deus nos livre de preconizar o uso de energia e dos processos violentos como único remédio para as almas. Deus nos livre também, entretanto, de proscrever(retirar) estes remédios heróicos de nossos processos de apostolado. Há circunstâncias em que se deve ser suave e circunstâncias em que se deve ser santamente violento. Ser suave quando as circunstâncias exigem violência, ou ser violento quando as circunstâncias exigem suavidade, há nisto sempre um grave mal.

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Toda esta ordem de idéias unilateral que vimos denunciando, decorre de uma consideração também unilateral das Parábolas. Há muita gente que faz da parábola da ovelha perdida a única do Evangelho. Ora, há nisto um erro gravíssimo que não queremos deixar de denunciar.
Nosso Senhor não nos fala somente em ovelhas perdidas que o Pastor vai buscar pacientemente no fundo dos abismos, ensangüentadas pelos espinhos em que lamentavelmente se feriram. Nosso Senhor nos fala também em lobos rapaces, que circundam constantemente o redil, à espreita de uma ocasião para nele se introduzirem disfarçados com peles de ovelhas. Ora, se é admirável o Pastor que sabe carregar aos ombros com ternura a ovelha perdida, que dizer-se do Pastor que abandona suas ovelhas fiéis para ir buscar ao longe um lobo disfarçado em ovelha, que toma o lobo aos ombros amorosamente, abre ele próprios as portas do redil, e com suas mãos pastorais coloca entre as ovelhas o lobo voraz? Quanto católico, entretanto, se desse aplicação efetiva aos princípios de apostolado unilateral que professa, agiria exatamente assim!

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Para que se compreenda melhor que a imitação perfeita de Nosso Senhor não consiste apenas na doçura e na suavidade, mas ainda na energia, citaremos alguns episódios ou algumas frases de certos Santos. O Santo é aquele que a Igreja declarou, com autoridade infalível, ser um imitador perfeito de Nosso Senhor. Como imitaram os Santos a Nosso Senhor? Vejamos:

  • Santo Inácio de Antioquia, mártir do século segundo, escreveu várias cartas a diversas Igrejas, antes de ser martirizado. Nestas cartas, ocorrem sobre os hereges expressões como estas: “bestas ferozes (Eph. 7); lobos rapaces (Phil. 2,2); cães danados que atacam traiçoeiramente (Eph. 7); bestas com rosto de homens (Smyrn. 4,1); ervas do diabo (Eph. 10,1); plantas parasitas que o Pai não plantou (Tral. 11); plantas destinadas ao fogo eterno (Eph. 16,2)”.
Este modo de tratar os hereges, como se vê, seguia de perto os exemplos de São João Batista que aos escribas e fariseus chamava de “raça de víboras”, e de Nosso Senhor Jesus Cristo que aos mesmos apelidava de “hipócritas” e “sepulcros caiados”.
  • Santo Irineu, mártir do século segundo e discípulo de São Policarpo, o qual por sua vez fora discípulo de São João Evangelista, que certa vez indo o apóstolo aos banhos, retirou-se sem se lavar pois aí vira Corinto, herege que negava a divindade de Jesus Cristo, com receio, dizia, que o prédio viesse abaixo, pois nele se encontrava Corinto, inimigo da verdade. O mesmo São Policarpo, encontrando-se um dia com Marcião, herege docetista, e perguntando-lhe este se o conhecia, respondeu o santo: “Sem dúvida, és o primogênito de Satanás”.
  • Aliás, nisto se seguiam o conselho de São Paulo: “Ao herege, depois de uma e duas advertências, evita, pois que já é perverso e condena-se por si mesmo”(Tit. 3,10).
  • São Policarpo se casualmente se encontrasse com herege, tapava os ouvidos e exclamava: “Deus de bondade, porque me conservaste na terra a fim de que eu suportasse tais coisas?” E fugia imediatamente para evitar semelhante companhia.
  • No século IV narra Santo Atanásio que Santo Antônio eremita chamava aos discursos dos hereges venenos piores do que o das serpentes.
E, em geral, este é o modo como os Santos Padres tratavam os hereges, como se pode ver de um artigo publicado na “Civiltà Cattolica”, periódico fundado por S. S. Pio IX, e confiado aos padres jesuítas de Roma. Nesse artigo citam-se vários exemplos que transcreverei:

  • “Santo Tomás de Aquino, que apresentado às vezes como invariavelmente pacífico para com seus inimigos, numa das suas primeiras polêmicas com Guilherme de Santo Amor, que ainda não estava condenado pela Igreja, assim o trata e aos seus sequazes: “inimigos de Deus, ministros do diabo, membros do Anticristo, inimigos da salvação do gênero humano, difamadores, semeadores de blasfêmias, réprobos, perversos, ignorantes, iguais ao Faraó, piores que Joviniano e Vigilâncio (hereges que negavam a Virgindade de Nossa Senhora)”. São Boaventura a um seu contemporâneo Geraldo chamava: “protervo, caluniador, louco, envenenador, ignorante, embusteiro, malvado, insensato, pérfido”.
  • O melífluo São Bernardo, a respeito de Arnaldo de Brescia que levantou cisma contra o clero e os bens eclesiásticos disse: “desordenado, vagabundo, impostor, vaso de ignomínia, escorpião vomitado de Brescia, visto com horror em Roma, com abominação na Alemanha, desdenhado pelo Romano Pontífice, louvado pelo diabo, obrador de iniqüidades, devorador do povo, boca cheia de maldição, semeador de discórdias, fabricador de cismas, lobo feroz”.
  • Mais antigamente, São Gregório Magno, repreendendo a João, Bispo de Constantinopla, lança-lhe em rosto seu profano e nefando orgulho, sua soberba de Lúcifer, suas palavras néscias, sua vaidade, a escassez de sua inteligência.
Nem de outra maneira falaram os Santos Fulgêncio, Próspero, Jerônimo, Sirício Papa, João Crisóstomo, Ambrósio, Gregório Nazianzeno, Basílio, Hilário, Atanásio, Alexandre, Bispo de Alexandria, os santos mártires Cornélio e Cipriano, Antenagoras, Irineu, Policarpo, Inácio Mártir, Clemente, todos os Padres enfim da Igreja que se distinguiram por sua heróica virtude.
Se se quiser saber quais as normas que dão os Doutores e Teólogos da Igreja para as polêmicas com os hereges leia-se o que traz São Francisco de Sales, o suave São Francisco de Sales, na Filotea, cap. XX da parte II: “Os inimigos declarados de Deus e da Igreja devem ser difamados tanto quanto se possa (desde que não se falte à verdade), sendo obra de caridade gritar: Eis o lobo!, quando está entre o rebanho, ou em qualquer lugar onde seja encontrado.”

(Até aqui citações do artigo da “Civiltà Cattolica”, vol, I, ser. V, pag. 27).

sábado, 13 de agosto de 2011

FORMAÇÃO V - PORQUE SOU CATÓLICO

Capítulo III
Porque somos Católico

1º Aspecto: Somente a Bíblia basta (Sola Scriptura)

            O Protestantismo está edificado sob a doutrina da Sola Scriptura. Esta expressão latina pode ser traduzida como “somente as Escrituras”, significando “somente a Bíblia basta”. O que os protestantes querem demonstrar pela Sola Scriptura é que a Bíblia, e apenas ela, é a única autoridade infalível para a fé de uma pessoa. Qualquer coisa só pode ser aceita se estiver prevista na Bíblia; o que não estiver lá, não pode ser aceito como verdadeiro e também não pode ser tido como obrigatório. É lógico que, dependendo da denominação (igreja) protestante avaliada, a definição de Sola Scriptura pode variar. Todos aqueles que crêem na Sola Scriptura, citam esta passagem: “De fato, toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a boa obra” (2 Tim 3, 16-17). Mas que Escritura havia no tempo de Paulo? Paulo morreu em aproximadamente 67 D. C., de forma que a segunda epístola a Timóteo (2 Tm) foi escrita antes desse ano. Existia o Novo Testamento nessa época? Não, não existia! Também sabemos que não existiu um Novo Testamento por centenas de anos após a redação da 2 Carta a Timóteo. Assim, a única Escritura disponível para Paulo era o Antigo Testamento hebraico, bem como a sua tradução grega, chamada Septuaginta. Isto coloca-o na difícil situação de ter que aceitar os livros “deuterocanônicos” , que estavam na Septuaginta grega, usada pelos judeus de língua grega, e também pelo próprio Paulo. Lembramos que estes foram os sete livros rejeitados por Lutero (fundador do Protestantismo), 1500 anos depois: Sabedoria, Eclesiástico, Judite, Tobias, 1 Macabeus, 2 Macabeus e Baruc. Uma vez que todas estas traduções eram as únicas disponíveis para Paulo e ele disse que “Toda a Escritura é inspirada por Deus”, então estes sete livros foram inspirados por Deus, ou não? Recordamos que os Apóstolos usaram essa versão e ninguém questionou; o cânon (lista de livros inspirados por Deus) da Bíblia foi definido pela Igreja Católica no século IV e também ninguém questionou até ao século XVI; o mesmo Concílio que definiu o cânon do Antigo Testamento definiu também o cânon do Novo Testamento. Assim, qual é a razão pela qual os protestantes não aceitam o cânon do Antigo Testamento definido no século IV e aceitam, por outro lado, todos os livros definidos para o Novo Testamento? Se não aceitam esses livros, quem poderia ter autoridade para removê-los? Recordamos que a Bíblia proíbe que se acrescente ou retire algo da Palavra de Deus e avisa para o perigo que daí possa advir. Portanto, não se pode usar 2 Tim 3, 16-17 para justificar a Sola Scriptura, sem rejeitar todo o Novo Testamento, sendo também obrigados a aceitar aqueles sete livros como inspirados. Porém, existem ainda outros pontos em que a crença na doutrina de que “somente a Bíblia basta”, acaba falhando. Se a Sola Scriptura é uma doutrina verdadeira, então:

a)      O cânon da Bíblia (lista dos livros inspirados) deveria estar na Bíblia;
b)      Cada livro da Bíblia deveria auto autenticar-se;
c)      Os judeus deveriam acreditar na Sola Scriptura;
d)     A Própria Bíblia deveria ensinar que “somente a Bíblia basta”;
e)      Os primeiros cristãos deveriam ter professado a Sola Scriptura;
f)       Os analfabetos não poderiam obter a salvação;
g)      As Escrituras deveriam se auto-explicar;
h)      Jesus deveria ter ensinado essa doutrina;

Contudo, nenhum dos requisitos acima referidos é verdadeiro.

Aspectos sobre a Tradição Oral

A Bíblia utilizada pelos protestantes é uma só; em Português, vem a ser a tradução de Ferreira de Almeida. Perguntamos nós:

a)      Então porque é que não concordam entre si no tocante a pontos importantes?
b)      Porque não constituem uma só comunidade cristã em vez serem milhares de igrejas separadas (e até hostis) entre si?


            A razão é que, além da Bíblia, seguem outra fonte de fé e disciplinar à qual se dá o nome de Tradição Oral. Ao passo que a Tradição Oral do Catolicismo começa com Cristo e os Apóstolos, as tradições orais dos protestantes começam com Lutero (1517), Calvino (1541), Knox (1541), Wesley (1739), Joseph Smith (1830) e como já referimos anteriormente, atualmente existem mais de 40.000 denominações (igrejas) protestantes. Entre Cristo e os Apóstolos de um lado, e os fundadores protestantes do outro, não há como hesitar: só se pode optar pelos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos, deixando de lado os “profetas” posteriores. Notemos que o próprio texto da Bíblia recomenda a Tradição Oral, isto é, a Palavra de Deus que não foi consignada na Bíblia e que deve ser respeitada como norma de Fé. Aqui ficam alguns exemplos que dão razão à Igreja Católica em aceitar a Tradição Oral: “Por este motivo é que suporto também esta situação. Mas não me envergonho, pois sei em quem acreditei e estou persuadido de que Ele tem poder para guardar, até àquele dia, o bem que me foi confiado. Toma como modelo as sãs palavras que ouviste de mim, na fé e no Amor de Cristo Jesus. Guarda, pelo Espírito Santo que habita em nós, o precioso bem que te foi confiado” (2 Tim 1, 12-14). Neste texto em particular, vê-se que o precioso bem é a doutrina que São Paulo fez ouvir a Timóteo, e que Paulo, por sua vez, recebeu de Cristo. Tal é a linha pela qual passa a doutrina: Cristo— Paulo— Timóteo. Mas a linha continua: “Quanto de mim ouviste, na presença de muitas testemunhas, transmite-o a pessoas de confiança, que sejam capazes de ensinar também a outros” (2 Tim 2, 2). Temos então a seguinte sucessão de portadores e transmissores da Palavra: O Pai— Cristo – Paulo (Os Apóstolos) — Timóteo (Os Discípulos imediatos dos Apóstolos) — Os fiéis— Os outros fiéis. Podemos continuar, referindo ainda outras passagens: “Portanto irmãos, estai firmes e conservai as tradições nas quais fostes instruídos por nós, por palavra ou por carta” (2 Tess 2, 15); “Apesar de ter muitas coisas a escrever-vos, não quis fazê-lo com papel e tinta, mas espero ir ter convosco e falar de viva voz, para que a nossa alegria seja completa.” (2 Jo 1, 12); “Tinha muitas coisas para te escrever, mas não quero fazê-lo com tinta e pena. Espero ver-te em breve e então falaremos de viva voz” (3 Jo 1, 13-14). 

Desta forma, a própria Escritura atesta a existência de autênticas proposições de Cristo a ser transmitidas por via meramente oral de geração em geração, sem que os cristãos tenham o direito de menosprezá-las ou retocar. A Igreja Católica é a guardiã fiel dessa Palavra de Deus oral e escrita. Contudo, os protestantes podem contestar dizendo: mas tudo o que é humano deteriora-se e estraga-se. Por isso, a Igreja deve ter deteriorado e deturpado a Palavra de Deus; quem garante que esta ficou intacta através de vinte séculos na Igreja Católica? Quem o garante é o próprio Cristo, que prometeu a sua assistência infalível a Pedro e as luzes do Espírito Santo a todos os seus Apóstolos, isto é, à sua Igreja. Aqui ficam algumas passagens que comprovam aquilo que foi dito: “Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há de recordar-vos tudo o que Eu vos disse” (Jo 14, 25-26); «“Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, há de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos-á o que há de vir. Ele há de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que eu disse: “Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer”» (Jo 16, 12-15). Não faria sentido o sacrifício de Cristo na Cruz se a mensagem pregada por Jesus fosse entregue ao léu ou às opiniões subjetivas dos homens, sem garantia de fidelidade através dos séculos. Esta garantia nos é dada pelo próprio Jesus Cristo quando diz aos seus Apóstolos: “Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. 

E sabei que Eu estarei sempre convosco até aos fins dos tempos”. (Mt 28, 18-20). Outro exemplo da presença de Cristo junto à sua Igreja nos é transmitido desta maneira: “ Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 19-20). Outra prova de que só a Bíblia não chega, é a de que os seus autores sagrados não expuseram todos os ensinamentos de Jesus por escrito, como atestam algumas passagens: “Muitos outros sinais miraculosos realizou ainda Jesus, na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e, acreditando, terdes a vida nele” (Jo 20, 30-31); “Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que o mundo não teria espaço para os livros que se deveriam escrever” (Jo 21, 25). Conclusão sobre a Sola Scriptura. Aqueles que crêem na Sola Scriptura, nunca compreenderão e jamais encontrarão a verdade. Eles edificam as suas crenças sobre a fundação de areia da Sola Scriptura e não sobre a rocha. A fundação de areia é insegura e instável. Não importa quantos remendos façam, mas o seu edifício de fé jamais será sólido e irá constantemente balançar conforme o vento e a água for levando a fundação de areia sobre a qual construíram sua fé. Gastarão todos os seus dias tentando provar em vão esta ou aquela crença, a partir da Bíblia. Uma denominação provará pela Bíblia que Jesus Cristo era divino mas não humano enquanto outra provará, pela mesma Bíblia, que Ele era humano mas não divino. A falsa doutrina da Sola Scriptura criada pelo homem simplesmente não funciona e jamais funcionará.

A doutrina da Sola Scriptura surgiu em cena apenas na época da Reforma Protestante (Século XVI). Não existia, nem poderia existir, antes da invenção da imprensa, quando as Bíblias finalmente se tornaram disponíveis a um baixo custo e em abundância para as massas populares. A doutrina da Sola Scriptura é anti bíblica, como foi demonstrado e não é histórica antes da Reforma, sendo impraticável. Esta falsa doutrina da Sola Scriptura e a “interpretação individual” da Bíblia (proibida pela própria Escritura em 2 Ped 1,20) são a principal causa da fragmentação do Corpo de Cristo no Protestantismo.

CONTINUA....