Não se assuste, meu caro leitor. A pergunta acima não é minha. Quem a fez foi um protestante: o Doutor Siegwalt, professor de Teologia Dogmática na Faculdade protestante de Strasburgo, que afirmou o seguinte:
“Não há nada na Missa renovada – [a Missa Nova de Paulo VI] — que possa incomodar realmente ao cristão evangélico. Falta saber se a esse rito se pode chamar de Missa católica”.
A pergunta do professor protestante deixa estarrecido qualquer católico comum, que desconhece a história de Paulo VI, do Concílio Vaticano II e da Missa Nova.
Mas, para quem conhece essas histórias, e para quem conhece a teologia da Missa de sempre e a da Missa Nova, a pergunta tem todo cabimento.
Ainda quando a Missa Nova foi promulgada, os Cardeais Bacci e Ottaviani assinaram uma carta ao papa Paulo VI, acusando a Missa Nova de ter se afastado perigosamente da Teologia Eucarística proclamada infalivelmente pelo Concílio de Trento. Disseram, esses dois Cardeais, que a Missa Nova “representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um surpreendente afastamento da teologia católica da Missa tal qual formulada na sessão XXII do Concílio de Trento”.
Por isso, acusavam a Missa Nova de ter sabor protestante, e de ameaçar levar os católicos ao protestantismo.
Escreveram esses Cardeais ao Papa Paulo VI:
“O seguinte Estudo Crítico é o trabalho de um grupo seleto de bispos, teólogos, liturgistas e pastores de almas. A despeito de sua brevidade, o estudo demonstra de forma bastante clara que a Novus Ordo Missae – considerando-se os novos elementos amplamente suscetíveis a muitas interpretações diferentes que estão nela implícitos ou são tomados como certos -- representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um surpreendente afastamento da teologia católica da Missa tal qual formulada na sessão XXII do Concílio de Trento. Os “cânones” do rito definitivamente fixado naquele tempo constituíam uma barreira intransponível contra qualquer tipo de heresia que pudesse atacar a integridade do Mistério”. (Carta dos Cardeais Bacci e Ottaviani a Paulo VI em 25 de Setembro de 1969)
O que os Cardeais Bacci e Ottaviani constataram e criticaram na Missa Nova de Paulo VI foi exatamente o que esse Papa ordenara que fosse feito na Missa. Isto é, que da Missa fosse retirado tudo quanto fosse mais católico e que pudesse ir contra o protestantismo. Esse desejo de Paulo VI foi tornado público por Jean Guitton, amigo pessoal e confidente do Papa Paulo VI.
Jean Guitton disse:
“Em Paulo VI havia uma intenção ecumênica de eliminar, ou pelo menos de tirar ou de atenuar, o que na Missa era demasiado católico em seu sentido tradicional, com a finalidade de aproximar a missa católica da missa calvinista” (Jean Guitton, apud Padre Dominique Bourmaud, Cien Años de Modernismo, Ediciones Fundación San Pio X, Buenos Aires, 2006, p. 374).
Para executar essa ordem de eliminar o que havia de mais católico na Missa foi incumbido Monsenhor Anibale Bugnini, cujo nome consta da lista de Maçons divulgada por Mino Peccorelli, lista que lhe custou a vida. E para eliminar o que havia de mais católico na Missa, Monsenhor Bugnini contou com a colaboração de 6 pastores protestantes que o ajudaram a fazer a Nova Missa.
Mons. Annibale Bugnini, fora indicado por Paulo VI no dia 5 de maio de 1964 como Secretário da Comissão para elaborar o Novo Ordo.
Em março 1965 o OSSERVATORE ROMANO publicou declarações de Monsenhor Bugnini mas quais ele dizia:
"Desejo eliminar [do futuro Rito em elaboração] cada pedra que pudesse se tornar ainda que só uma sombra de possibilidade de obstáculo ou de desagrado aos irmãos separados" (L'Osservatore Romano, de 11 de março de 1965; Doc. Cath. Nº 1445, de 4/4/1965, coll. 603-6040).
Portanto, Monsenhor Bugnini declarou que ia fazer exatamente o que Paulo VI afirmara que desejava que fosse feito: eliminar o que havia de mais católico na Missa, e que só podia ser a Fé na Presença Real de Jesus Cristo na Hóstia Consagrada, e o caráter sacrifical e propiciatório da Santa Missa. (L'Osservatore Romano de 13 de maio de 1967)
De novo, Jean Guitton, avaliando a Nova Missa de Paulo VI, no livro "L’infinito in fondo al cuore", declarou que "a Missa de Paulo VI parece ser a tradução de um serviço protestante"
No dia 19 de dezembro de 1993, no debate "Lumière 101" da Rádio Courtoise, o mesmo Jean Guitton fez as declarações que já citamos tiradas do livro do Padre Bourmaud sobre as intenções de Paulo VI ao reformar a Missa de sempre:
"..a intenção de Paulo VI em relação à liturgia, ou à vulgarização da Missa, era para reformar a liturgia católica para aproximá-la da liturgia protestante... à Ceia protestante. (...) repito que Paulo VI fez tudo o que estava em seu poder para aproximar a Missa católica --- apesar do Concílio de Trento --- à Ceia protestante".
E quando um Padre, presente no debate, protestou Guitton respondeu:
"A Missa de Paulo VI se apresenta principalmente como um banquete, não é verdade?... e insiste muito pouco na noção de sacrifício, de sacrifício ritual (...). Em outras palavras, há em Paulo VI uma intenção ecumênica de eliminar, ou pelo menos de atenuar, o que há nela de muito 'católico', no sentido tradicional e de aproximá-la -- repito -- da Missa calvinista"! (UNA VOCE - França - maio/junho de 1994)
Daí a Missa Nova ser mais próxima da ceia protestante do que da Missa católica. E essa protestantização da Missa fez do sacerdote um “show-man", mais preocupado em divertir a comunidade do em realizar misticamente o sacrifício do Calvário.
Tal mudança da Missa católica para um show-missa dessacralizou o sacerdote e causou o êxodo de milhões de católicos para os cultos protestantes. Desse modo, a pergunta do Professor protestante Siegwalt tem muito propósito:
“Falta saber se a esse rito se pode chamar de Missa católica”.
Pelos frutos se conhece a árvore...