E, por fim, meu Imaculado Coração triunfará!

terça-feira, 26 de abril de 2011

FORMAÇÃO IV - PORQUE SOU CATÓLICO

Capítulo II
Outros Movimentos Cristãos

Há algum tempo, e cada vez mais, a imprensa noticia que milhares e milhares de cristãos estão a se afastar da Igreja Católica para seguir novos movimentos religiosos. Vemos assim que o católico costuma ser pacífico e bom ouvinte. Por outro lado, sabemos que muitos católicos assim se declaram, porque foram batizados quando crianças, não tendo, após isso, uma verdadeira vida cristã: nunca foram à Igreja, nunca tiveram interesse em participar nos grupos comunitários, e nunca se aprofundaram no estudo bíblico e doutrinário da Igreja, fazendo no máximo a primeira comunhão.

Para discutir este problema, existem hoje duas correntes de pensamento dentro da própria Igreja Católica: a primeira acha positivo este “êxodo”, já que ocorre uma purificação interna dentro da própria Igreja, uma vez que, como está comprovado, só deixam de ser católicos aqueles que pouco interesse têm pela Igreja. A segunda, embora reconhecendo que essa ‘purificação’ possa ser positiva para o aumento da qualidade dos fiéis católicos, afirma que não é justo permitir o afastamento do ‘joio’, já que estes foram, na maioria das vezes, conquistados de forma ilícita, isto é, por desconhecerem a sã doutrina da Igreja Católica, mudando de fé, graças a atitudes pouco ecumênicas por parte da maioria dos dirigentes de outras “igrejas”, que aproveitando o fato do pouco conhecimento religioso de boa parte dos católicos, converte-os às suas respectivas religiões usando, para isso, de artimanhas verdadeiramente anti-ecumênicas.

De uma forma ou de outra, a própria Igreja Católica reconhece que é necessário uma nova evangelização, buscando aprofundar as raízes de todos os fiéis católicos, bem como de todos os homens de boa vontade.

Primeira grande divisão no Cristianismo

Relembremos que a primeira grande divisão dentro do Cristianismo ocorreu em 1054 D.C. (aproximadamente mil anos após a fundação da Igreja). É o que se chama de Cisma Oriental. Antes disso, grandes polêmicas tinham surgido dentro do seio do Cristianismo mas, mesmo assim, sempre se chegava a um consenso geral através da realização de grandes Concílios Ecumênicos, que reuniam bispos de todo o mundo até então conhecido. 

Aqueles que não se adequavam às decisões eram afastados da Igreja, criando - como hoje em dia - comunidades heréticas que o próprio tempo tratou de exterminá-las. Mas o Cisma Oriental foi a primeira divisão que realmente abalou o mundo cristão. Doutrinariamente, os orientais, baseados em Constantinopla, acusaram a Igreja do ocidente de ter acrescentado o termo filioque ao credo niceno-constantinopolitano, resultando na procedência do Espírito Santo a partir do Pai e do Filho e não apenas do Pai, como originalmente registava tal credo, o que dava a impressão que o Espírito Santo passou a "existir" após o Pai e o Filho. Muito embora a Igreja católica tenha demonstrado e comprovado que tal acréscimo nada modifica na fórmula original, nem impõe uma ordem de procedência, já que se trata do Deus único, a Igreja Ortodoxa jamais aceitou voltar à plena comunhão com a Igreja de Roma, o que bem demonstra que a divisão não ocorreu por motivo simplesmente doutrinário.

Mas então qual seria o verdadeiro motivo da separação? Política! Desde o séc. VII, Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, desejava ter os mesmos direitos da Sé de Roma, tendo conseguido obter, no máximo, o reconhecimento do privilégio da segunda, logo depois de Roma. Assim, o argumento do "acréscimo ilícito" do filioque foi usado apenas para garantir a separação na ordem política! Isso é História.

Esclarecimento sobre a Reforma Protestante

Após essa separação, uns séculos mais tarde, no século XVI, acontece a Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero. A filosofia que Lutero aprendeu na Universidade, era o aristotelismo interpretado por Guilherme Ockham e a sua escola era a chamada “via moderna”, também dita “Nominalismo”. O Nominalismo levava ao conceito de Deus Soberano Arbitrário, mais terrível do que amável, identificado com uma vontade toda-poderosa e quase caprichosa e tirânica, que tanto poderia condenar um justo como salvar um pecador sem apagar o pecado deste. 

A 2 de Julho de 1505 deu-se um fato decisivo: quando voltava da casa de seus pais para Erfurt, onde morava, quase foi fulminado por um raio. Impressionado, Lutero exclamou: “Ajuda-me, Santa Ana, e serei frade!”. Confessou posteriormente que se arrependeu de ter feito tal voto; os amigos quiseram-no dissuadir de cumpri-lo, mas Lutero julgava-se obrigado a fazê-lo; nem o pai conseguiu desviá-lo do propósito. Sendo assim, catorze dias após proferir o voto, ou seja, em 16/07/1505, Lutero, com vinte e dois anos de idade incompletos, entrou no convento dos Agostinianos de Erfurt, tido como uma casa religiosa de observância fervorosa. 

No convento, o frade improvisado procurou cumprir a Regra, orando, jejuando, obedecendo, vivendo em castidade. Todavia sentia-se angustiado e inquieto pelo temor de não estar a agradar a Deus. De modo especial perturbava-o a incerteza da predestinação: estaria ele irremediavelmente destinado ao inferno? Era-lhe difícil conceber uma resposta, visto que a filosofia nominalista que aprendera, lhe insuflava a idéia de um Deus misteriosamente arbitrário em seus desígnios e tremendamente justiceiro, em vez do conceito de um Pai misericordioso, cuja vontade salvífica universal se evidencia no fato de ter entregado o seu Filho pela salvação dos homens. Durante esta crise, confessa Lutero que “não amava, mas odiava o Deus justiceiro, que castigava os pecadores e, se não blasfemava em silêncio, ao menos murmurava, terrivelmente indignado contra Deus”. Atormentado por dúvidas e remorsos, corria a confessar-se, acusando culpas que talvez não fossem tais senão na sua imaginação altamente excitada. Afinal o Deus tirânico que ele forjara, não era o Deus da Tradição cristã, mas sim o Deus sugerido pelo regime de educação severa e ela formação filosófica que recebera. 

Em 1515, Lutero foi designado pelos Superiores da Ordem de S. Agostinho para lecionar as epístolas de São Paulo. Lendo e meditando tais textos, o frade foi descobrindo a solução do seu problema, que constava de dois princípios básicos:
· O pecado deteriorou irremediavelmente a natureza humana, de modo que o homem é incapaz, por si, de praticar o bem, nem tem liberdade para isso. Precisa da graça para fazer boas obras; mas mesmo as obras boas dos Santos são más: “Mesmo praticando boas obras, pecamos”. O pecado permanece sempre, porque a concupiscência desregrada também permanece sempre; o Batismo não a extingue.
· Se somos sempre pecadores, não são as nossas boas obras que nos salvam, mas a fé ou a confiança em Cristo. Se alguém tem fé, Deus deixa de imputar os seus pecados e aplica-lhe os méritos de Cristo. A esta modalidade de justificação, Lutero chama de “imputativa, forense, judiciária e não ontológica”. Não há regeneração e santificação real da alma humana. O homem é simultaneamente justo e pecador: pecador na realidade e justo na aparência que Deus dele faz; justo porque tem fé em Cristo, pecador porque não cumpre a lei e não está isento da concupiscência desregrada: “De modo nenhum nos condena o facto de sermos pecadores, contanto que desejemos ser justos... Convém, pois, permanecer nos pecados e gemer por nos libertarmos deles na esperança da misericórdia de Deus”.

          A Teologia ensina que o sentir a concupiscência não é pecado se o cristão não lhe dá consentimento. Mas, em virtude de sua formação ockhamista, Lutero valorizava o sentir, mais do que o raciocínio, de modo que sentir a vontade, mesmo sem lhe consentir, já lhe parecia ser pecado. Em síntese, Lutero julgava que a concupiscência desregrada é o próprio pecado original. Visto que aquela jamais se extingue no homem, segue-se que o pecado original não é apagado pelo Batismo; por isto todo homem é corrupto e rejeitado pela santidade de Deus; em tudo o que ele faça (mesmo nas boas obras), ele peca; a vontade não é livre para praticar o bem. Donde se conclui que a justificação se faz unicamente pela fé, dom de Deus, sem colaboração ativa do homem. Foi sobre este pano de fundo que sobreveio o episódio das indulgências.

As indulgências e a Reforma Protestante

          A temática das indulgências é geralmente mal entendida e relatada por historiadores profanos que descrevem a reforma luterana. Aqui apresentaremos apenas os fatos como se deram na época de Lutero, influindo sobre as atitudes do frade agostiniano. Em 1514 teve origem na Alemanha uma situação pouco honesta. Com efeito, Alberto de Hohenzollem, com 24 anos de idade, foi nomeado Arcebispo de Magdeburgo (em Fevereiro) e Administrador Apostólico de Halberstadt (em Setembro). No ano seguinte, o cabido de Mogúncia elegeu-o para esta diocese primacial da Alemanha. Caso aceitasse a eleição, teria que renunciar às duas outras dioceses. 

Suplicou, porém, ao Papa Leão X que lhe permitisse acumular as três dioceses--o que não era oportuno para a vida pastoral dos diocesanos. Todavia, o Pontífice permitiu, por razões de conveniência ocasional, contanto que pagasse à Câmara Apostólica 10.000 ducados de ouro por tal dispensa, além dos 14.000 florins renanos já desembolsados para receber o palio (insígnia) de arcebispo e a confirmação pontifícia. Para pagar tal dívida, Alberto resolveu pedir emprestado ao banqueiro Tiago Függer, de Ausburgo, a quantia de 21.000 ducados e 500 florins, equivalente aproximadamente a 29.000 florins renanos.

A fim de conseguir reembolsar ao banqueiro, os príncipes eleitores Alberto e seu irmão Joaquim entenderam-se com a Cúria Romana no sentido de se promover a pregação de indulgências nas três dioceses de Alberto e no território de Brandenburgo submetido a Joaquim de Hochenzollern, sob a condição de que a metade do dinheiro arrecadado se destinasse à construção da basílica de São Pedro em Roma e a outra metade ficasse para Alberto, arcebispo de Mogúncia. Em Outubro de 1515 o Imperador Maximiliano interveio, exigindo durante três anos a contribuição de mil florins anuais em favor da igreja de São Tiago em Innsbrück.
 
A pregação dessas indulgências foi confiada ao frade dominicano João Tetzel, fervente pregador e de costumes íntegros, mas mais orador popular do que autêntico teólogo. Com retórica tratou de comover e convencer os fiéis a dar sua contribuição. Não vendia bulas papais que prometessem o perdão dos pecados, como se tem dito, mas soube usar de dialéctica abusiva e imprudente, o que, em parte, se compreende pelo facto de que o seu trabalho era controlado por funcionários do banqueiro Függer. Tetzel seguia as normas estabelecidas por Alberto de Mogúncia no libelo “Instructio Summaria pro Subcommissariis”. Deve-se confessar que todo esse plano de arrecadar dinheiro e as suas finalidades não merecem aprovação.
 
Quando a “Instructio Summaria” chegou às mãos de Martinho Lutero, este insurgiu-se “como um cavalo cego”, e protestou energicamente junto ao respectivo autor, Alberto de Mogúncia. Escreveu, indignado, uma carta de protesto ao arcebispo de Mogúncia, enviando-lhe também um exemplar das suas teses. A carta pedia que fosse retirada de circulação a “Instructio” e corrigido o modo de pregar as indulgências.
 
Diante da intransigência do Papa Leão X, Lutero confirma, desenvolve e endurece as suas posições. Tem início a Reforma. Em 1521, é declarado herético, mas já tem adeptos no seio do Império. Refugia-se junto de Frederico da Saxónia, traduz a Bíblia para alemão, casando-se em 1525. Numerosos discípulos vêm posteriormente apoiar a sua obra doutrinal. Publica em 1530 A Confissão de Augsburgo, carta do luteranismo que, em 1555, se torna oficial em certos Estados do império.
 
Os princípios da Reforma e as suas correntes não pararam de crescer por toda a Europa provocando o nascimento de numerosas “igrejas particulares”, por causa das divergências de doutrina, sendo as principais, a Igreja Luterana, fundada pelo próprio Lutero e a Igreja Reformada fundada por Calvino. Pode se dizer que as outras saíram destas duas: batistas, metodistas, presbiterianas, pentecostais, adventistas; etc.


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