E, por fim, meu Imaculado Coração triunfará!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Católico Tradicional

O que deve, portanto, significar de modo profundo e sobrenatural, o termo Tradição? Apenas porque somos ligados à Fraternidade S. Pio X? Ou porque assistimos a missa Tridentina? Ou ainda, porque combatemos Vaticano II? Não é isso que nos faz fiéis da Tradição. Por outro lado, esses conservadores de todos os matizes, pedantes e falsamente obedientes, resvalando como estão na religião da opinião, podem pretender ser católicos da Tradição?

O católico da Tradição é quem, em tudo, age pela Fé sobrenatural: “Meu justo vive de Fé” (Galatas, 3, 11). O católico da Tradição baseia seu conhecimento naquilo que é verdadeiro, infalível e profundo, buscando a coisa como ela é, na sua realidade, e não na opinião que, subjetivamente, se forma no coração do homem. O católico da Tradição fortalece seu espírito na Esperança teologal ao se deparar com os erros atuais, inclusive quando são difundidos pelo papa e por Roma; não o escondem, não o justificam, preferindo considerar, com a Imitação de Cristo, o que foi dito e não quem o disse.

O católico da Tradição prova seu amor e seu zelo pela Igreja dando sua vida por Nosso Senhor, não se importando com as duras perseguições que sofre ao denunciar o erro, mas unindo-se ao Cristo crucificado, na Paixão da Igreja. Na prática, deve sempre o católico da Tradição estudar a doutrina e os eventos relativos à crise da Igreja na sua profundidade, com humildade e espírito de obediência, sempre se perguntando se conhece de fato o que é essencial, e não apenas situações secundárias. Jamais passaria pela cabeça de um católico da Tradição, fazer chacota e piada com os escândalos que nos massacram, como fazem esses superficiais conservadores. E isso é sinal de que não podem ser verdadeiros católicos da Tradição.

Finalmente, o Católico da Tradição reza sem cessar, confia a Deus seus cuidados e seus sofrimentos, pedindo que lhe venham as graças necessárias para perseverar na verdade acima de tudo, preservando-o do espírito superficial e subjetivo. 

Só assim poderá o católico desenvolver em sua alma uma personalidade espiritual, a essência do seu catolicismo, a fé verdadeira fundada na verdade e o amor perfeito que dá a vida por Cristo crucificado e pela Igreja.
Dom Lourenço Fleichman OSB

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A PROFECIA DE SÃO NILO

São Nilo, Eremita do século V, amigo e discípulo de São João Crisóstomo, Superior de um Mosteiro de Ancira, na Galácia, morreu no ano 430. Sua Profecia foi inserida na importante obra de Hagiografia: “Bibliotheca Sanctorum”, vol. IX, p. 1008.

Antes de apresentarmos essa Profecia, é bom fazer algumas considerações iniciais, para que a sua simples leitura não seja superficial, nem passem desapercebidas as coisas e acontecimentos que ela nos revela. Essa profecia tem mais de 1570 anos, o que equivale a mais de XV séculos e meio, e é de estilo Apocalíptico. Humanamente falando: é absolutamente impossível que um homem, sem a ajuda de Deus, possa conhecer o futuro, dizendo, com incrível precisão, as coisas que estão por acontecer.

São Nilo, que viveu no século V, disse que sua Profecia realizar-se-ia no século XX. A indicação da época em que esta viria realizar-se e a sua realização revela a sobrenaturalidade da profecia, ou seja, faz-nos ver que foi Deus que falou, afastando, assim, a argumentação de que sua realização seja apenas uma mera coincidência, ou fruto de uma interpretação comodata dos textos proféticos da Bíblia.

A predição da época, e a sua realização, é um testemunho que faz brilhar a onisciência de Deus, e sinal de que a Profecia não veio do homem, mas de Deus. Ora, nem o homem e, segundo a teologia, nem os Anjos e nem os Demônios podem conhecer, com certeza, o que irá acontecer, porque têm a inteligência limitada. Deus, porém, pode conhecer, com certeza, o que irá acontecer, num futuro próximo ou longínquo, porque sua inteligência é ilimitada, ou seja, compreende tudo: o presente, o passado e o futuro.

A inteligência do homem mau compreende o presente; a do Anjo compreende o presente e o passado; e tanto um como o outro, não podem, de maneira absoluta, conhecer o futuro. Portanto, a Profecia de São Nilo, que trás a compreensão exata de coisas futuras, que viriam acontecer XV séculos depois de sua predição, só pode ter a Deus por autor.

A Profecia de São Nilo deve ser considerada como uma interpretação divina e profética das Profecias Bíblicas, porque nos indica o tempo exato em que elas iriam realizar-se.

Deus quis, por meio dessa Profecia, assistir à sua Igreja, nestes tempos conturbados pelo qual ela está passando, porque essa Profecia é um Dom do Espírito Santo, o qual foi prometido aos Apóstolos para guiar toda a Igreja no caminho da verdade como tal, conforme disse nosso Senhor Jesus Cristo: “Quando vier, porém, o Espírito de verdade, ele vos guiará no caminho da verdade integral, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e anunciar-se-vos-á as coisas que estão para vir.” (Jô. 16, 13). As “coisas que estão para vir” são todas aquelas “coisas” que foram profetizadas por nosso Senhor Jesus Cristo, pelos  Profetas e pelos Santos Apóstolos, ou seja, as “coisas que estão para vir” são as Profecias que dizem respeito ao final dos tempos e sobre a aparição do Anticristo.

O Espírito Santo, por meio de seus Dons de Profecia, anunciará o tempo exato, em que todas estas coisas acontecerão. A Profecia de São Nilo anuncia, de maneira extraordinária, o tempo exato em que os sinais da Parusia, profetizados por nosso Senhor Jesus Cristo e pelos Santos Apóstolos, viriam acontecer.

Embora a Profecia de São Nilo indique a época de sua realização, isto não contradiz em nada o que está escrito: “Mas, quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os Anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai”. (Mt. 24, 36).
Não contradiz, porque a Profecia indica o século, e não o dia e a hora, em que os sinais ali descritos viriam acontecer, como anúncio da aparição do Anticristo e do fim dos tempos.

Segue-se, agora, o texto da Profecia:
“A Vinda do Anticristo”
“Depois do ano 1900, por meados do século XX, as pessoas desse tempo tornar-se-ão irreconhecíveis ... Quando se aproximar o tempo da vinda do Anticristo, a inteligência dos homens será obscurecida pelas paixões carnais: a degradação e o desregramento acentuar-se-ão. O mundo, então, tornar-se-á irreconhecível. As pessoas mudarão de aparência, e será impossível distinguir os homens das mulheres, por causa do atrevimento na maneira de se vestir e na moda de seus cabelos.
Essas pessoas serão desumanas e como autênticos animais selvagens, por causa das tentações do anticristo. Não se respeitará mais os pais e os mais idoso. O amor desaparecerá. E os pastores cristãos, bispos e sacerdotes, serão homens frívolos, completamente incapazes de distinguir o caminho à direita, ou à esquerda. Nesse tempo as leis morais e as tradições dos cristãos e da Igreja mudarão. 
As pessoas não praticarão mais a modéstia e reinará a dissipação! A mentira e a cobiça atingirão grandes proporções, e infelizes daqueles que acumularão riquezas! A luxúria, o adultério, a homossexualidade, as ações secretas e a morte serão a regra da sociedade.
Nesse tempo futuro, devido o poder de tão grandes crimes e de uma tal devassidão, as pessoas serão privadas da graça do Espírito Santo, recebida no seu batismo, e nem sequer sentirão remorsos.
As Igrejas serão privadas de pastores piedosos e tementes a Deus, e infelizes dos cristãos que restarem sobre a terra, nesse momento! Eles perderão completamente a sua Fé, porque não haverá quem lhes mostre a luz da verdade. Eles se afastarão do mundo, refugiando-se em lugares santos, na intenção de aliviar os seus sofrimentos espirituais, mas, em toda a parte, só encontrarão obstáculos e contrariedades.
Tudo isto resultará do fato de que o Anticristo deseja ser o senhor de todas as coisas, e se tornar o mestre de todo o Universo. Ele realizará milagres e sinais inexplicáveis. Dará também a um homem sem valor uma sabedoria depravada, a fim de descobrir um modo pelo qual um homem possa ter uma conversa com outro, de um canto ao outro da terra.
Nesse tempo, os homens também voarão pelos ares como os pássaros, e descerão ao seio do oceano como os peixes. E quando isso acontecer, infelizmente, essas pessoas verão as suas vidas rodeadas de conforto, sem saber, pobres almas, que tudo isso é uma fraude de Satanás.
E ele, o ímpio, inflará a ciência da vaidade, a tal ponto que ela se afastará do caminho certo e conduzirá as pessoas à perda da Fé na existência de Deus, de um Deus em Três Pessoas...
Então, Deus, infinitamente Bom, verá a decadência da raça humana, e abreviará os dias, por amor do pequeno número daqueles que deverão ser salvos, porque o Inimigo desejaria arrastar mesmo os eleitos à tentação, se isso fosse possível. Então a espada do castigo aparecerá de repente e derrubará o corruptor e seus servidores.” 

Se compararmos a Profecia de São Nilo com todas as Profecias Bíblicas, de estilo apocalíptico, notaremos uma identidade de idéias muito profundas, de forma que elas se compreendem e se completam.

As profecias Bíblicas que tratam sobre o “Fim dos Tempos” e sobre a “Vinda do Anticristo”, descrevem de forma extraordinária todos os sinais que acontecerão naqueles dias, mas só que não revelam o tempo exato em que estas coisas viriam a se realizar, ao passo que São Nilo, ao tratar sobre o mesmo assunto, indica o tempo em que tudo isso viria a acontecer. Por isto a Profecia de São Nilo torna-se uma interpretação divina e profética das Escrituras.

Portanto, diante da angustiante questão: quando será o fim dos tempos? E Quando virá o Anticristo? – podemos afirmar, com São Nilo, e sem medo de errar, que o tempo em que tudo isto começaria a realizar-se é o nosso século XX.

Deus anunciou os sinais da Parusia, e São Nilo, mais de XV séculos e meio antes, iluminando por Deus mesmo, anunciou, com extraordinária precisão, o tempo ou a época em que a Parusia começaria a acontecer.

O tempo, anunciado por São Nilo, é o século XX, ou seja, um período que vai desde 1900 até 2000. Contudo, surge aí uma dificuldade: A Profecia indica o início da época em que os sinais da Parusia começariam a realizar-se, mas ao contrário do que muitos possam pensar, não indica o tempo em que esta Profecia concluir-se-á, de tal modo que o “fim” pode ser muito depois do ano 2000.

São Nilo marcou, e com extraordinária precisão, o início de sua Profecia para “meados do século XX”, ou seja, alguns anos depois da metade deste século.

Como todos sabem, “um século” tem “cem anos”, e a metade de “cem” (100/2) é “cinqüenta” (50).  Mas, a palavra “meados” significa mais meia metade, ou seja, mais uns “vinte e cinco” anos (25).

Portanto, 1900 + 50 = 1950 + 25 = 1975, ou seja, a Profecia de São Nilo começou a cumprir-se num período que vai desde 1950 até 1975.  A parte central e a mais importante dessa Profecia, realizou-se entre os anos 50 – 70, com a realização do Concílio Vaticano II, que foi o único “Concílio atípico” da História Eclesiástica.

Depois de indicar a época em que sua Profecia começaria a se cumprir, São Nilo descreve, com uma precisão verdadeiramente admirável, o triunfo geral do pecado, ou seja, a aceitação do “liberalismo” no mundo todo.

Profetizou a revolução indumentária que, segundo Nossa Senhora de Fátima, ofenderia muito a Deus nosso Senhor. No século V as mulheres não usavam calças compridas, foi só depois dos anos 60 que esse costume se generalizou, com o surgimento do movimento “hippie”, e vulgarizado por uma maciça propaganda na imprensa tanto falada como escrita, ou seja, a nova moda foi amplamente divulgada no Cinema, na Televisão, nos Jornais e Revistas do mundo todo.

Foi nesse tempo que o Papa João XXIII, ao inaugurar o Concílio Vaticano II, recusou, e convidou todos os Padres Conciliares a recusar, a postura de ataque e defesa da verdade contra o erro, ao pronunciar as seguintes palavras: “Sempre a Igreja se opôs aos erros; muitas vezes até os condenou com a maior severidade. Nos nossos dias, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade.” (Comp. Vat. II, p. 8, Introd. Geral, Frei Boaventura Klop, O.F.M., Ed. Vozes, 4.ª ed.).

Infelizmente esse pronunciamento vai de encontro à palavra de Deus, que disse: “Porquanto o não ser proferida logo sentença contra os maus é causa de cometerem os filhos dos homens crimes sem temor algum.” (Eclesiastes, 8, 11).

Com a recusa do espírito destas palavras do Eclesiastes, o Inimigo se infiltrou na Igreja, e os Exércitos Católicos começaram a decair. Foi por causa dessas idéias que o mundanismo triunfou, e se tornou causa de perdição para um incontável número de almas.

Neste sentido o Concílio Vaticano II foi atípico porque, ao recusar a condenação dos erros atuais, acabou por condenar um passado de mais de XX séculos da Igreja. Primeiro veio a crise de moral, depois a crise de Fé e a crise dos Eclesiásticos. Depois de anunciar a crise de caridade e a crise dos Eclesiásticos, São Nilo profetizou o seguinte: “Nesse tempo as leis morais e as tradições dos cristãos e da Igreja mudarão”.

Estas palavras, que foram proferidas mais de XV séculos antes, constituem o centro da Profecia de São Nilo. Por causa disto ela é a chave que permite entender e interpretar todas as Profecias Bíblicas, as de Nossa Senhora e as dos Santos, que dizem respeito ao “Final dos Tempos”.

Estas palavras são como que a “bússola”, com a qual podemos interpretar as demais. Falo assim, porque, como todos podem ver, a Profecia de São Nilo cumpriu-se ao pé da letra, de maneira infalível.

Muitos terão medo de compreender o verdadeiro sentido destas palavras, porque elas exigem de todo bom católico uma postura de resistência às mudanças condenadas pela Profecia, e de permanência àquelas coisas que o Anticristo deseja abolir.

Mas ao lado dos que, pela covardia, desprezarão estas palavras, outros mais não darão à elas a devida importância, por causa de um triste e enganoso sentimento de escrúpulos, porque as palavras da Profecia os levarão a tomar uma postura de conflito, e mesmo de “aparente desobediência” às Autoridades Sagradas.

O escrúpulo é a tentação na qual muitos bons católicos caíram, e com isso contribuem, sem se darem conta, com a obra de demolição da Fé, que penetrou na Igreja. O escrúpulo levou muitos sacerdotes a obedecer “ordens e decretos” em desacordo formal com as Tradições da Igreja e das Escrituras; e ainda a justificarem sua obediência ao modernismo, dizendo que “Deus escreve certo por linhas tortas”.

Mas que ninguém tenha escrúpulos, porque no passado já houve cristãos que resistiram mesmo às mais altas Autoridades da Igreja, em defesa e conservação da Fé.

Assim, por esta razão, o próprio Santo Atanásio, como é de todos conhecido, não hesitou em resistir e desobedecer mesmo ao Papa Libério, que o tinha proibido de combater a heresia Ariana.

Por causa disto o Papa Libério excomungou o Bispo Atanásio que, mais tarde, foi reconhecido e canonizado pela Igreja, porque no tempo da heresia Ariana, foi o único Bispo Católico, ou seja, que não pecou contra a Fé, aderindo à heresia ou deixando de combate-la.

Para não pecar contra a Fé, ele teve que “desobedecer” aos homens, para obedecer a Deus. Mais tarde São Máximo e São Sofrônio, Bispos, resistiram e desobedeceram ao Papa Honório I, porque permaneceram fiéis às Tradições dos Antigos e rejeitaram a heresia monifisita.

Por causa desta desobediência aparente, eles foram Canonizados, e o Papa Honório foi, depois de sua morte, excomungado pelo III Concílio de Constantinopla e pelo Papa São Leão II.

Eis as palavras de São Leão II, Papa: “Anatematizamos (...) Honório (Papa), que não ilustrou esta Igreja Apostólica com a doutrina da Tradição Apostólica, mas permitiu por uma traição sacrílega, que fosse maculada a Fé imaculada” (...) e “não extingüiu, como convinha à sua autoridade, a chama insipiente da heresia, mas a fomentou por sua negligência.” (Denz. Sch. 563 e 561).

O VI Concílio Ecumênico, assim se expressou, ao analisar as cartas do Papa Honório e do Patriarca Sérgio: “tendo verificado estarem elas em inteiro desacordo com os dogmas apostólicos e as definições do Santos Concílios e de todos os Padres dignos, de aprovação, e pelo contrário seguirem as falsas doutrinas dos hereges, nós as rejeitamos de modo absoluto e as execramos como nocivas às almas.” (Denz. Sch. 550).

São Máximo e São Sofrônio “desobedeceram” e “resistiram” publicamente “contra” o Papa Honório e contra todos os Prelados e Sacerdotes que apoiaram Honório e o Patriarca Sérgio na heresia monofisita, e mereceram, por causa disto, a glória dos Altares.

Honório e o Patriarca Sérgio foram apoiados por meio de uma “obediência servil”, que prefere imolar a verdade, ao invés de imolar-se pela verdade. O Padre Fernando Áreas Rifan, no que toca à obediência, disse o seguinte: “A obediência é uma virtude moral, inferior à Fé, que é uma virtude teologal. A obediência é uma virtude moral, inferior à Fé. A Fé não tem limites. A obediência os tem. Obedecer é fazer a vontade de Deus, expressa na vontade dos superiores, representantes de Deus. Mas se a ordem dos superiores se revela em contradição com a vontade de Deus, então vale aplicar a frase de São Pedro: ‘É preciso obedecer a Deus antes que aos homens’ (Atos 5,29). Assim, o 4.ª mandamento manda o filho obedecer aos pais. Mas se o pai lhe manda algo contra a vontade de Deus, o filho não deve fazer o que o pai ordena, e peca se o fizer”.

É bem conhecido de alguns um Documento, chamado Masterplano (“Plano da maçonaria para destruir a Igreja”), onde está escrito que “o plano” seria “executado pelos bons católicos”, que poriam em prática seus objetivos por via da obediência.

A autenticidade ou não desse Documento fica a critério de cada um, o que queremos, é mostrar, por este exemplo, o poder que uma falsa noção de obediência tem, para desviar o Clero e os fiéis do bom e reto caminho da Tradição Apostólica.

Foi no ConcílioVaticano II que mudaram as tradições da Igreja. E essas mudanças foram impostas à toda Igreja, em nome da obediência. Mudaram a Missa, introduziram a Comunhão na mão e em pé, tiraram o véu da cabeça das mulheres, permitiram que o mundanismo entrasse na Igreja, etc.

Do Concílio Vaticano II saiu uma mudança radical, um rompimento formal com a Tradição, em suma, saiu dali uma nova Igreja. Saiu dali o “cisma mortal”, de que fala a Profecia de Lerida.

Mas assim como, no tempo do Papa Honório e do Papa Libério, houve Prelados que se opuseram às novidades, como São Máximo, São Sofrônio, e Santo Atanásio, que, por sinal, foram excomungados, porque desobedeceram aos homens, para obedecer a Deus, também no tempo do Concílio Vaticano II, e em nosso tempo, houve e há Prelados que resistiram e resistem às mudanças, e foram obrigados a “desobedecerem” aos Papas Paulo VI, João Paulo I, e João Paulo II, para permanecerem fiéis às Tradições Imutáveis da Igreja, tais como a Doutrina, a Missa Tridentina, o Catecismo, etc.

Estes Prelados foram os Bispos Dom Marcel Lefebvre e Dom Antonio de Castro Mayer. Por causa desta resistência eles foram excomungados pela Santa Sé, em junho de 1988. As Fraternidades Sacerdotais, por eles fundadas, continuam, ainda hoje, com a graça de Deus e da Virgem, resistindo firmes contra o modernismo demolidor da Fé, que se instalou na Igreja.

Como estes dignos Prelados já estivessem em idade avançada, e temendo que já estivessem perto da morte, e para garantir a sobrevivência de suas Fraternidades Sacerdotais, cuja missão era a de dar continuidade às Tradições da Igreja, principalmente à Missa Tridentina, e aos Sacerdotes formados segundo o espírito do Concílio de Trento, Dom Lefebvre pediu, várias vezes, à Santa Sé a autorização para a sagração de pelo menos uns dois Bispos. A Santa Sé negou, diplomaticamente, este pedido. Como a sobrevivência de suas Fraternidades exigia novos Bispos, ele sagrou, mesmo sem a licença de Roma, quatro Bispos para a Tradição, incorrendo, com isso na excomunhão prevista no código 1382, do Direito Canônico.

Hoje em dia, por causa dos códigos 1321, 1323 e 1324, do Direito Canônico, conforme declaração de vários canonistas, eles já não são mais considerados “rebeldes” e “excomungados”, porque estes cânones tornam nula a pena prevista no código 1382, por causa das razões que motivaram Dom Lefebvre proceder às sagrações sem mandato pontifício.

O próprio Cardeal Ratzinger, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, declarou nula e sem efeito a excomunhão que o Bispo de Honolulu, no Havaí, lançou contra um grupo de fiéis que mantêm uma Capela assistida pela Fraternidade Sacerdotal São Pio X, por ocasião de Crismas realizadas por Dom Richard Williamson, Bispo sagrado por Dom Lefebvre sem o mandato pontifício.

Diz a História da Igreja que Santo Atanásio sagrou 14 Bispos, “fora dos limites de sua jurisdição”, e que o muito Santo Eusébio também impôs “as mãos fora dos limites.” (Patres Graeci e Migne).

São Teodoro Estudita, ao comentar estes fatos, diz o seguinte: “Em razão de imperiosas necessidades, nem tudo, em momentos críticos onde campeia a heresia, se faz exatamente o que se estabeleceu em tempos de paz. Ora, eis precisamente o que o bem-aventurado Atanásio e o muito santo Eusébio fizeram manifestamente: ambos impuseram as mãos fora dos limites (de sua jurisdição)”. (Patres Graeci. Migne. V. 99, col. 1645 – 1648).

Portanto, em tempos de crise de Fé, quando essa crise atinge as próprias autoridades, a obediência torna-se relativa, ou seja, limitada pelos dogmas de Fé e pelas Tradições Apostólicas.

O modernismo foi excomungado pelo Papa São Pio X, e a liturgia da missa nova viola, entre outras coisas, o cânon 9 da Sessão XXII do Concílio Tridentino, incorrendo, “ipso facto”, nos “anátemas” que ali foram pronunciados. O Concílio Vaticano II violou, entre outros, a Bula “Quo Primum Tempore”, de São Pio V, a “Mirarivos”, a “Mortalium animus”, o “Sílabus”, a “Pascendi”, a “Mediator Del”, e nenhuma Autoridade Vaticana teve a coragem de condenar esses erros, mas tiveram a coragem de condenar àqueles que estão impugnando o modernismo violador destes Documentos e de toda a Tradição Apostólica.

A Tradição Apostólica, violada pela Igreja Pós Conciliar, tem uma importância de origem Divina, e por isso não pode ser violada. São Paulo Apóstolo sempre ordena a fidelidade às Tradições Apostólicas (II Tess. 2, 14; 3, 6; 13-15;etc.). Os Padres da Igreja, dignos de aprovação, elegeram a Tradição Apostólica como critério de verdade, que serve para distinguir o “joio” do “trigo”, ou seja, os hereges dos católicos.

São Vicente de Lerins, no que toca às Tradições, escreve o seguinte: “Na Igreja Católica, deve-se ter sumo empenho em que mantenhamos aquilo que foi crido em toda a parte, sempre e por todos, pois isto é que é verdadeira e propriamente católico. (...) Portanto, pregar algo aos católicos fora daquilo que eles receberam, nunca foi lícito, em parte alguma é lícito, e nunca será lícito; e anatematizar aqueles que anunciam algo fora do que foi uma vez aceito, foi sempre necessário, em toda a parte é necessário e sempre será necessário.” (Communitorium, Ench. Patr. 2168).

Pois bem, o Concílio Vaticano II rompeu com todas as Tradições do passado, e construiu uma nova Igreja, por isso os Tradicionalistas, e mais alguns outros, resistiram firmemente à essa crise de Fé, que foi Profetizada muitos séculos antes por nosso Senhor, pelos seus Santos Apóstolos, por São Nilo, por São Boaventura, por São Vicente Ferrer, e por Nossa Senhora: em Quito, La Salette e em Fátima.

O Papa Adriano II, ao analisar o caso do Papa Honório, declarou que a resistência dos inferiores aos superiores torna-se legítima em tempos críticos e de crise de fé, ao dizer: “Honório foi anatematizado pelos Orientais; mas deve-se recordar que ele foi acusado de heresia, único crime que torna legítima a resistência dos inferiores aos superiores, bem como a rejeição de suas doutrinas perniciosas.”
(Alloc. III lect. In Conc. VIII, act, VII, citado por Pes.
Trads in “A missa nova: um caso de consciência, p. 3).

O Papa Honório foi excomungado pela Igreja, mas isso não significa, de maneira alguma, que ele tenha sido condenado ao Inferno; ele pode, mesmo penalizado pela excomunhão, estar no céu ou no purgatório. A Igreja o excomungou a fim de que ninguém seguisse seus erros e fraquezas.

São Gregório Magno, o Papa Místico, profetizou o silêncio dos Pontífices, no seu comentário sobre o Anticristo, ao dizer: “a boca da verdade calará”, e “calar-se-á aquele que deveria falar”.

Todo o drama do “Final dos Tempos” está desenhado na Profecia de São Nilo, de modo a marcar, com extraordinária precisão, o tempo exato em que todas as Profecias começariam a realizar-se.

Fidelidade heróica às Tradições da Igreja é uma das principais mensagens da Profecia de São Nilo.

São Nilo, rogai por nós!

Fonte: Site Rainha Maria.

Assis 1986, o Encontro Panteísta do Beato João Paulo II


João Paulo II cumprimenta um "sacerdote" do Voodú Africano. (Assis, 1986)

Assis, 27 de Outubro de 1986. No encontro pela paz não faltaram os sacerdotes Vudus. Embora praticantes da magia negra, das orgias sexuais, do sacrifício de crianças, até a eles foi concedido o mesmo tratamento das outras confissões e foi-lhes até reservado um local para praticaremo seu culto de adoração.

O gesto de João Paulo II de reunir em Assis, em 1986, e presidir às maiores religiões do mundo para uma oração pela paz, foi um gesto que provocou profunda indignação e reprovação, porque foi uma ofensa a Deus no Seu Primeiro Mandamento, porque aquele gesto negou a unicidade da Igreja e da sua missão salvadora; porque aquele gesto abriu decididamente os fiéis Católicos ao indiferentismo; porque aquele gesto enganou ainda os infiéis adeptos das outras religiões.

Porventura não disse São Paulo que estes falsos “deuses”

são anjos decaídos, ou seja, demónios? «Ora, não quero que entreis em comunhão com o demônio. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice do demônio; não podeis participar na mesa do Senhor e na mesa do demónio!
» (1 Cor. 20-21).

E ainda São Paulo escreve: «Não queirais emparelharvos a um jugo estranho com os infiéis.Pois que consórcio pode existir entre a justiça e a iniquidade, ou que sociedade entre a luz e as trevas? Ou que acôrdo entre Cristo e Belial? Que coisa de comum entre o fiel e o infiel? Que acôrdo entre o templo de Deus e o dos ídolos?
» (II Cor. 6. 14-15).

Neste Congresso-simbiose das inumeráveis religiões, estiveram presentes mesmo os adoradores da serpente vudu (adoradores de Satanás!) e até aqueles que não crêem em algum “deus” determinado, profanando, deste modo, a Basílica de São Francisco. Além disso, para “não ofender”estas falsas religiões, foi impedido o ingresso na Basílica da imagem da Senhora de Fátima e permitido que se colocasse no altar uma estátua de Buda… mesmo sobre o Sacrário! Além disso, tal profanação praticou-se ainda na Basílica de São Pedro, em Roma, e depois em Bruxelas, em Bolonha e noutras dioceses, como na Catedral de Amiens…

Estátua de Buda no lugar do Crucifixo sobre o tabernáculo do Santíssimo Sacramento, no altar da Igreja de S. Pedro em Assis.
 No Osservatore Romano de 3 de Fevereiro de 1990, lêse:
«Entramos, com o Vaticano II, numa época ecumênica… a tarefa não é fácil. Não se pode fazer, em curto período, o que foi feito em sentido contrário durante um longo período».

Deste modo, é claro que João Paulo II era contrário ao
“passado”, isto é, à “Tradição da Igreja”, ao trabalho
dos seus predecessores… Mas, se vistas as consequências, quais sejam: apostasia nas nações Católicas; difusão das seitas; desaparição gradual, mas contínua, do sacerdócio; “diálogo”, que substituiu o dizer categórico de Cristo.

O Dalai Lama, o homem mais visto no encontro de Assis a seguir a João Paulo II, é a máxima autoridade do budismo tibetano, isto é, de uma religião ateia. Disse-o ele mesmo: «Do meu ponto de vista, pode-se dizer com certeza que a teoria socialista se avizinha muito da doutrina budista… budismo e socialismo negam, ambos, a existência de um ser superior criador do universo


Para o budismo, o real é o vazio absoluto e todo o ser é ilusão fantasmagórica do nosso “eu”, que, por sua vez, é auto-ilusão, e a libertação que um budista deseja consiste no aniquilamento do “eu” no “nirvana”, pois aquele que se ilude em se salvar pelas boas obras está no mesmo engano daquele que se abandona, sem escrúpulos, às paixões e aos vícios. A este paradoxal ensinamento, que apresenta o Bem como um engano mais subtil e, por isso, mais temível e maléfico do que o Mal, se junta o tantrismo budista: a “via” mais elevada de “salvação” budista, denominada “Vayarayana”, (que significa “via do órgão sexual masculino”), enquadra-se na categoria das práticas perversas que utilizamos desejos e as paixões do homem, sobrepondo-se ao controle do indiferentismo budista, que se alcança na dedicação a ritos obscenos e orgiásticos. 
Se bem que nem todas as escolas tântricas budistas chegaram na prática da sua doutrina a consequências extremas, justificando o homicídio, a luxúria e a embriaguês ritual, o acto sexual independente de qualquer vínculo conjugal, o “coito ritual”, constitui uma prática fundamental do budismo iniciático, em particular do lamaísmo. Outra “via” assaz importante do tantrismo budista, todo alimentado de magia, de demonismo e de obscenidade, é o “Kalachakra”. Esta iniciação, no seu conjunto, é considerada secretíssima e o Dalai Lama, que realmente é seu depositário, transmite-a com muita parcimónia, dadas as suas características e a força psíquica que desencadeia no discípulo; forças obscuras e devoradoras, que facilmente levam a quem as invoca a perder-se nos meandros sem regresso de uma loucura
povoada de formas demoníacas.

A obra em verso que transmite a mensagem do “Kalachakra” aponta, nos versículos 151 e 152, Jesus de Nazaré ao desprezo dos seus seguidores, como mestre herético de povos bárbaros! Neste encontro inter-religioso, os franciscanos de Assis, num excesso de
espírito ecumênico, ecologista e panteísta, prestaram-se a montar em volta da Basílica de São Francisco uma “Ara Viridis”, isto é, um “Altar Verde”, espécie de altar ao Grande Deus Pã, que deveria estar pronto em 1992, ano do nascimento da Europa dos Banqueiros e das Holdings.

No ritual do 32º grau da Maçonaria de Rito Escocês Antigo e Aceite, o Grão Mestre dirige ao adepto estas aplavras: «Quando virá o tempo da ceifa, quando serão libertadas as fundações mais profundas sobre as quais repousam todas as religiões; talvez estas fundações sirvam ainda uma vez de asilo, como de outra vez as catacumbas e as criptas das nossas catedrais. Aqueles que, num ou noutro culto, aspiram a algo de mais puro, os que se encontram nos seus ritos, nos sacrifícios, nos ofícios e nas orações do círculo religioso onde o destino os levou… esses sim, deixarão atrás as coisas que veneramos e que ensinamos no pagode hindu, na vihara budista, na igreja maometana e na igreja cristã. Mas cada um levará consigo, para a quietude da cripta, aquilo que mais estima, a pérola mais preciosa da sua herança. Essa cripta, ainda estreita e obscura, todavia já foi visitada por aqueles que se afastam do tumulta das multidões, do deslumbramento das luzes, do contraste dasopiniões. Quem sabe? Com o tempo crescerá talvez em extensão e será mais luminosa, até que a cripta do passado se tornará, um dia, a Igreja do Futuro».

A jornada de Assis de 27 de Outubro de 1986, foi alvorada de que dia

Talvez fosse então que, na esteira do ecumenismo e do irenismo do Vaticano II, começou a surgir menos o “contraste das opiniões” e a cripta da Loja Maçônica a dilatar-se para se tornar o templo universal da Nova Ordem Mundial?

domingo, 4 de setembro de 2011

A primeira etapa da reforma litúrgica. - Parte final

A quase totalidade dos teólogos atuais e o magistério dos últimos cinqüenta anos sustentam que o episcopado é uma ordem bem distinta do sacerdócio 40. A concepção medieval diz que não há senão uma diferença de grau entre o sacerdócio e o episcopado; o padre recebeu por sua ordenação todos os poderes episcopais, mas estes lhes são atados 41. Fala-se, a este respeito, da não-sacramentalidade do episcopado. No entanto, no âmbito do sinal, ou seja, da liturgia, constata-se um movimento inverso: enquanto que o rito Romano tradicional torna nitidamente visível a diferença de grau entre o presbiterado e o episcopado, e isso pelas numerosas variações entre a missa pontifical e a missa solene, o novo rito de 1965 (como o de Paulo VI) não manifesta mais de maneira distinta a diferença entre o padre e o bispo. Os padres têm, doravante, privilégios pontificais: podem presidir desde a banqueta -- ou se deveria dizer “pontificar à banqueta”? Quanto aos bispos, podem doravante celebrar uma missa solene como simples padres, sem nenhuma diferença litúrgica com estes últimos, sem nenhum gesto exprimindo a plenitude do sacerdócio que receberam. No entanto, como afirmou um liturgista ao concluir um estudo sobre o cerimonial Papal:
“Dos ritos significativos que cercam a celebração sacramental, Santo Tomás de Aquino diz que alguns são realizados a fim de representar a Paixão de Cristo, outros se referem ao Corpo Místico que é manifestado por este sacramento, outros, por último, exprimem a devoção e a reverência devidas a este mistério. 42 O aspecto cerimonial nos parece consistir, sobretudo, na manifestação da estrutura hierárquica da Igreja na celebração do sacramento. Conclui-se que os livros litúrgicos (...) contemplam a celebração eucarística como o ato por excelência no qual a Igreja se realiza. Eles se organizam e se estruturam em torno do ato central do sacrifício sobre a base de uma tradição teológica e de uma tradição litúrgica intimamente relacionadas e, hoje, infelizmente, contestadas” 43 Com 1965 chega o reino do vel, vel, vel [ndr: ou, ou, ou em latim] e isso faz a alegria do Padre Jounel:
“Ressaltamos que o Ritus servandus de 1570 recusava ao celebrante qualquer liberdade na apreciação das condições concretas da celebração. Ora, o Ritus de 1965 oferece constantemente a escolha entre diversas soluções: por exemplo, após o Kyrie o celebrante se dirige à sede “ao menos que, de acordo com a disposição de cada igreja, pareça-lhe melhor permanecer ao altar até a oração” (RS 23); do mesmo modo, vários casos estão previstos para as leituras; o celebrante faz a homilia e dirige a oração universal “desde sua sede, do altar, do ambão ou da cancela [ndr: a parte superior da igreja próxima ao altar-mor, separada do restante por uma cancela]”, de maneira a assegurar a participação do fiéis nas melhores condições (RS 50,51). ” 44
Os fiéis deverão se habituar em adentrar uma igreja atendida por um padre “tradicional”, como os outros fiéis em qualquer paróquia, sem saber a que se assemelhará a sua missa dominical? Como não se sentir como uma “cobaia” nas mãos de padres que não deixarão de fazer “experiências litúrgicas” e de dar vazão às suas fantasias, ao seu humor do dia, resumidamente, à sua subjetividade? 45 Tomemos o exemplo do Pater cantado ou recitado por todos no rito de 1965 (ponto que, em si, não é importante). Por que querer a todo custo alterar o costume tradicional estabelecido em nossas comunidades, sob unânime satisfação dos fiéis? Não seria para acostumar os nossos fiéis às mudanças, para fazê-los adentrar uma mentalidade nova, este novo “espírito”?
Afirmamos a relação profunda que existe entre o dogma e a liturgia, havendo, com efeito, uma relação íntima entre os dois “da mesma maneira que a alma não se faz senão uma com o corpo e que o pensamento se exprime, através de uma misteriosa unidade, pela palavra pronunciada. O dogma e a liturgia têm por finalidade última e comum a salvação das almas, o que é idêntico ao único fim ao qual pode tender o homem”. 46
A liturgia segue paralelamente o progresso do dogma. Conseqüentemente, se há um desenvolvimento da liturgia, este corresponde a um progresso do dogma 47. No caso que nos interessa, qual desenvolvimento do dogma justifica tal mudança na liturgia? Pode-se realmente qualificar de progresso uma tal evolução?
Nas sucessivas reformas dos anos 60, não se quis mais considerar o dogma e continuar a construir sobre esta rocha, mas preferiu-se aventurar-se sobre as areias movediças de uma história de ritos arqueologizantes, da sociologia 48, da “pastoral moderna” 49, do ecumenismo, etc. Assim, por todas as razões mencionadas neste trabalho, não nos é possível aceitar o rito de 1965, que conduz ao rito de Paulo VI, pois provêm dos mesmos princípios. Ademais, no período de crise que atravessa a Igreja, é importante não alterar em nada a liturgia 50. O Papa São Pio V o havia compreendido bem quando codificou o Rito Romano, que a petrificava, certamente, mas sobretudo a protegia da heterodoxia. Deveremos esperar tempos melhores antes de aceitar quaisquer mudanças, que não virão de outro lugar senão da autoridade: Roma. 51

Fonte: Fratres in Unum

sábado, 20 de agosto de 2011

A primeira etapa da reforma litúrgica. - Parte II

2) Nas leituras e nos cantos entre as leituras:

- Nas missas celebradas com o povo (rezadas, cantadas ou solenes), não se recita nem canta a Epístola voltado para o altar e o Evangelho para o norte, mas se recita voltado para o povo desde um ambão ou da grade do coro 29.
- Nas missas não solenes celebradas com povo, as lições e a Epístola, com os cantos entre as leituras, podem ser lidos por um leitor capaz ou por um coroinha, enquanto que o celebrante continuará sentado e lhe ouvirá.
- O padre permanece sentado durante todas as leituras. Ele abençoa o subdiácono e o diácono; ele impõe o incenso, abençoa-o e continua sentado. Ele entoa da banqueta o Gloria e o Credo. Preside, por último, a oração universal a partir da banqueta, ao menos que o faça do ambão ou da grade do coro.
3) O papel atribuído ao vernáculo na missa:

- Nas missas, quer cantadas, quer rezadas, as lições, a Epístola, o Evangelho e a oração universal devem ser lidas em vernáculo.
- O Kyrie, o Gloria, o Credo, o Sanctus e o Agnus Dei podem ser recitados ou cantados na língua do país.
- Todo o próprio da missa pode ser recitado ou cantado em vernáculo: a antífona de entrada (Introito), o oração da coleta, o gradual, o Alleluia e o seu versículo, o tracto, a sequência, a antífona do ofertório, a secreta, a antífona da comunhão e a oração da pós-comunhão.
- O que resta das orações ao pé do altar pode ser dito em vernáculo: Confiteor, Misereatur, Indulgentiam, etc.
- Além disso, as aclamações, as saudações e as fórmulas de diálogo como o prefácio podem ser ditas em vernáculo (Dominus Vobiscumsubstituído por “O Senhor esteja convosco”, o Oremus por “rezemos ao Senhor”, etc.) 30.
- O Pater e o Libera nos podem ser recitados ou cantados em vernáculo por todo o povo 31.
- O “Domine non sum dignus” pode ser dito em vernáculo.

Ao fim desta lista das mudanças operadas no rito de 1965, não se pode deixar de pensar no que Mons. Klaus Gamber escreveu sobre as múltiplas pequenas mudanças inseridas no rito de Paulo VI:
“Depois de tudo, a questão é a seguinte: o que se quis alcançar com essas modificações, algumas das quais são mínimas? Talvez muito simplesmente se quis realizar as idéias favoritas de alguns especialistas em liturgia, mas às custas de um rito com mais de 1500 anos!” 32 É igualmente o caso da reforma que aqui estudamos. É necessário notar que entre todas as mudanças, algumas são mais importantes que outras. As três inovações mais discutíveis são o uso do vernáculo para tudo o que se diz em voz alta pelo celebrante ou pela assembléia; a divisão da missa ao meio, de tal modo que o padre abandone o altar até o ofertório; e as escolhas múltiplas deixadas ao padre, permitindo-lhe adaptar a liturgia (segundo quais critérios?).

Para a questão do uso do vernáculo na liturgia e do problema das traduções, retornemos às numerosas obras e artigos publicados sobre este assunto já há mais trinta anos 33. Mas é necessário notar que, paradoxalmente, vários padres que levam adiante o uso do latim em sua defesa do rito tradicional, sonham apenas com uma coisa: rezar em vernáculo tudo o que é dito em voz alta na missa, ou seja, tudo que os fiéis ouvem 34. Nisso, já no rito de 1965 a unidade que caracteriza o Rito Romano Tradicional era perdida. Ademais, se o uso do vernáculo é introduzido para “unificar” as duas comunidades, que traduções serão utilizadas em tais assembléias: o “vós” ou “tu”? “Não nos deixes cair em tentação” ou “não nos sujeiteis à tentação”? “Consubstancial ao Pai” ou “da mesma natureza que o Pai”? etc. [nota da redação: tais variações de tradução no idioma francês não correspondem à versão portuguesa. Em nosso caso, poder-se-ia questionar sobre “perdoai-nos as nossas dívidas” ou “perdoai-nos as nossas ofensas”, “e com teu espírito” ou “ele está no meio de nós”, etc].

O leitor pode imaginar a cacofonia que provocaria tal reforma: os fiéis tradicionais querendo guardar com toda a razão as traduções tradicionais e os fiéis modernos as suas. Mais divisões à vista. Vimos que no rito de 1965, após as orações ao pé do altar (ou daquilo que delas resta), o celebrante se encaminha diretamente à banqueta ou ao ambão e lá permanece até o ofertório. A concepção dos reformadores sobre a missa vai provocar sua divisão em duas partes bem distintas 35: o altar é reservado à “liturgia eucarística”; quanto à “liturgia da Palavra”, ela se passa integralmente fora do altar (exceto a incensação do início da missa). Essa divisão é o que choca, à primeira vista, no rito de Paulo VI e já no de 1965. Até o rito de 1962, o padre que celebra a missa solene está sempre no altar: é de lá que ele entoa o Gloria e o Credo, é de lá que ele canta a coleta. Ele abençoa o subdiácono e o diácono, assim como o incenso, para as diferentes incensações durante a missa. Ele permanece na banqueta apenas durante a epístola e os cantos do coro. 

Em contrapartida, no caso da missa pontifical ao trono (a do bispo em sua diocese), o pontífice não vai ao altar até o ofertório (exceto, evidentemente, na incensação do início da missa). Ele senta ao trono, que é originalmente uma cátedra, por conseguinte, um lugar fixo afastado do altar. Com efeito, o bispo em sua diocese representa o Cristo Soberano Pontífice, e apenas ele tem o direito de ocupar o trono. Tem não apenas a plenitude do sacerdócio, mas também o poder de jurisdição. Os gestos litúrgicos vão, naturalmente, exprimir isso: o Santíssimo Sacramento é retirado do Tabernáculo do altar-mor, ajoelha-se diante do bispo durante a cerimônia e, como dissemos, ele não se dirige ao altar, mas permanece ao trono (que se encontra do lado do Evangelho, que é lado mais digno) onde realiza as funções pontificais e isso até o ofertório: ele celebra fora do altar. A missa pontifical ao trono é, em certa medida, uma manifestação da Igreja: a partir da renovação do Sacrifício da Cruz se estrutura toda a Igreja, com o conjunto do clero por ordem hierárquica que cerca o bispo, que representa simultaneamente Cristo-Sacerdote, Cristo-Pastor e Cristo-Mestre da fé. Compreende-se, então, a importância da liturgia na Igreja: “Ato da Igreja, a liturgia se modela sobre a própria constituição da Igreja.” 36

Se um bispo celebra fora da sua diocese, tem o poder de ordem, mas não o de jurisdição, e por esta razão não celebra ao trono (ao menos que o ordinário do lugar lhe permita), mas aofaldistório, que é uma sede móvel que se coloca na dependência imediata do altar, do lado direito. Neste caso, o bispo exerce as mesmas funções que o bispo ao trono, mas próximo ao altar, voltando-se freqüentemente para ele, manifestando assim como o altar permanece o pólo organizador da celebração. No caso do padre durante a missa solene, há uma semelhança entre o faldistório e a banqueta: ambos são colocados próximos ao altar, do lado direito. A diferença é que o faldistório do bispo é orientado em direção aos fiéis (como era na antiga catedral), enquanto a baqueta fica perpendicular ao altar. Enquanto que o trono se encontra elevado em um ou vários degraus, a banqueta permanece in plano. Ela deve ser móvel e o costume de não a deixar entre duas cerimônias é comum. O padre permanece na banqueta apenas durante os cantos executados pelo coro, bem como durante a epístola, e é do altar que realiza os atos presidenciais 37 próprios do celebrante. A ausência de jurisdição é manifestada por esta presença do padre no altar para todas as funções propriamente sacerdotais: o seu poder sacerdotal está como que ligado ao altar, emana do altar. Isso é particularmente visível quando, ao abençoar com a sua mão direita o incenso, o diácono ou o subdiácono, o padre mantém sua mão esquerda sobre o altar. Certo, o uso contrário existiu, mas permanece uma exceção e era percebido como tal ao se falar a seu respeito enquanto privilégio:

“O Pontífice permanece ao trono até o ofertório, de onde recita ou canta, durante este tempo, tudo o que deve ser recitado ou cantado. Deste mesmo privilégio gozam igualmente todos os celebrantes da Igreja de Reims, mesmo que não sejam bispos. Eles não recitam nem cantam nada desde o altar até o ofertório, mas sobre um atril colocado ao lado do altar” 38. Um estudo histórico do Padre Emmanuel OSB, no 3º colóquio do CIEL 39 (de onde foi tirado o essencial de nossa matéria sobre este assunto), expõe claramente este problema e conclui: “No início deste estudo, fizemos a seguinte pergunta: “A regra em vigor até em 1962 (presidência ao altar para o simples padre) é universalmente atestada na história da missa romana ou há exceções”? Ao fim de nosso estudo, podemos responder: Na medida em que os textos a que hoje temos acesso nos permitem julgar, a missa romana, tanto no uso da cúria como no das dioceses e ordens religiosas, mostra-nos o simples padre se mantendo no altar para o Gloria, a Coleta e o Credo, e isso inclusive até 1962. O Ordo Missae de 1965 se afasta, portanto, da prática em uso -- de maneira quase geral -- até então, ao colocar o simples padre à sede para tal”.

O caso que estudamos é particularmente representativo da relação que existe entre a teologia e a liturgia. O poder de ordem e o poder de jurisdição, que são noções teológicas, são, pelos gestos litúrgicos, claramente manifestados durante a Missa Pontifical ao trono. O poder deordem sem o poder de jurisdição é da mesma maneira expresso pela missa pontifical ao faldistório. Por último, a missa solene do simples padre, exercendo o seu poder de ordem a partir do altar, mostra a ausência da plenitude do sacerdócio nele, que não recebeu o episcopado.

CONTINUA...

FONTE: Fratres in Unum

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A primeira etapa da Reforma Litúrgica

Algumas notas sobre o rito de 1965 ou “A primeira etapa da Reforma Litúrgica” - Por Padre S. Dufour


O anúncio feito pelo Cardeal Castrillon Hoyos (por ocasião da audiência concedida à associação Una Voce, na segunda-feira, 4 de setembro de 2000 1, e reiterado em uma entrevista publicada na revista mensal La Nef 2) sobre a possibilidade de um ordenamento do missal de 1962 em direção às rubricas de 1965, relançou o debate a respeito desse rito 3. Debater ou simplesmente se deter sobre o rito de 1965, que não teve mais que uma breve existência (1965-1967: data da passagem a uma liturgia integralmente vernácula), não deve ser algo reservado apenas aos especialistas da história da liturgia. Pelo contrário, esse assunto diz respeito a todo católico preocupado com a integridade de fé, “sem a qual é impossível agradar a Deus” 4, e que se indaga sobre a liturgia, na medida em esta traz conseqüências para aquela, em virtude do princípio da “lex orandi, lex credendi” 5. 

Há já alguns anos que vários padres “Ecclesia Dei” começaram a preparar, por iniciativa própria 6, a “reforma da reforma” e, de fato, anteciparam-se ao utilizar, assim como ao promover, o rito de 1965. Para eles, o rito de Paulo VI e rito Romano Tradicional não podem coexistir eternamente na Igreja Latina e é necessário encontrar uma solução. Pensam que o rito de 1965 é uma boa conciliação entre os dois: a primeira parte da missa é, grosso modo, a do rito de Paulo VI; o Ofertório e o Cânon são os do rito Romano tradicional. Por conseguinte, o essencial parece ficar a salvo. Contudo, veremos que esse rito não pode ser uma solução aceitável porque, pelo espírito que o sustenta, também presente na origem dos gestos litúrgicos que impõe, não pode ser mais que uma etapa, mais ou menos longa, em direção à missa nova.

Ademais, sua utilização habitual corre o risco de criar um terceiro rito, o que não deixará de acentuar as divisões entre os fiéis e entre os padres, e, assim, agravar a situação atual: o remédio aplicado poderia se revelar ainda pior que a própria “doença”. O melhor meio de se lançar um olhar objetivo sobre os fatos é muito simplesmente consultar os livros surgidos em 1965 para apresentar esse novo rito aos padres. O próprio título do nosso artigo, “O rito de 1965 ou: a primeira etapa da reforma litúrgica” 7, pode parecer polêmico, no entanto, ele não é nosso, mas de Pierre Jounel, personalidade bem conhecida do movimento litúrgico 8 e um dos grandes “cabeças” do C.N.P.L. (Centro Nacional de Pastoral Litúrgica). É ele quem o emprega no título de sua obra: Les rites de la messe em 1965 9 , que tem por objetivo justificar a reforma de 1965 e comentar as rubricas deste novo rito (o ritus servandus, o de defectibus e o Ordo Missae). É interessante notar integralmente uma parte de sua introdução, que tem o mérito de resumir a diferença entre rito de 1962 e o de 1965: “Quando, em 1962, a Congregação dos Ritos publicou uma nova edição típica do Missal Romano, a fim de adaptá-lo ao Código de Rubricas de 1960, congratulou-se com as múltiplas correções trazidas aos ritos da missa, mas ninguém teve a impressão de uma novidade. O ritus servandus in celebratione Missae foi atualizado, simplificado em alguns pontos, esclarecido em sua redação aqui ou ali; mas não diferia essencialmente daquele que havia sido promulgado pelo Papa São Pio V em 1570. Quanto ao Ordo Missae, ele não sofreu nenhuma modificação 10.

Pelo contrário, em 7 de março de 1965, padres e fiéis descobriram uma liturgia nova, celebrando pela primeira vez a missa segundo o Ritus servandus e o Ordo Missae promulgados em 27 de Janeiro do mesmo ano, sob a autoridade conjunta do Conselho para a Aplicação da Constituição Litúrgica e da Congregação dos Ritos. Sem dúvida, o novo uso da língua do país era para muitos a descoberta, mas os ritos mesmo se apresentavam sob uma luz desconhecida até então: a celebração da liturgia da Palavra fora do altar, o fato de do celebrante não recitar mais em privado os textos proclamados por um ministro ou cantados pela assembléia, constituíam inovações capitais. Teriam surpreendido tanto um contemporâneo de São Luis como um cristão do século XIX, pois era necessário remontar ao primeiro milênio para encontrar uma visão igualmente nítida das estruturas fundamentais da missa 11.

Porém, desde 7 de março, certos problemas oriundos da reforma da liturgia têm amadurecido espantosamente rápido. Na celebração voltada para o povo, recomendada pela instrução Inter Oecumenici 12, alguns gestos herdados da Idade Média, como os múltiplos beijos no altar, os sinais da cruz sobre as oblatas, as genuflexões repetidas, ou, ainda, a recitação do Cânon em voz submissa, tornaram-se um verdadeiro fardo para os padres (sic!) que, até então, haviam observado as rubricas com toda tranqüilidade. Descobre-se nesta tensão que, se o Ritus servandus de 1965 comporta novidades inegáveis, permanece dependente das rubricas codificadas em 1570, sobretudo no que diz respeito à liturgia eucarística. “Entre a liturgia do Concílio de Trento e a do Concílio do Vaticano II, ele constitui um ritual de transição”13. Pouco mais adiante, o autor desenvolve esta idéia em um parágrafo especial: “O Ritus servandus de 1965 pertence, de certo ponto de vista, à linhagem do Ritus de 1570, conservando a mesma estrutura e reproduzindo freqüentemente os seus termos. No comentário a seguir é possível dar, para o maior número de artigos do novo Ritus, a referência ao artigo correspondente da edição de 1962. Mas, se o Ritus de 1965 reproduz freqüentemente a letra do de São Pio V, ele tem um outro espírito (…)

O Ritus de 1965 quis restaurar sem maior demora a liturgia da Palavra: esta é celebrada desde a cátedra do celebrante e do ambão: as leituras são realizadas pelo ministro competente; o gradual pode ser salmodiado por um cantor-leitor com resposta do povo (ver o Graduale simplex); (…); a oração universal 14 [ndr: conhecida no Brasil como “oração dos fiéis”+ vem por último coroar o conjunto do rito. O futuro Ordo Missae não terá nada a acrescentar a tal prescrição. No aguardo do novo lecionário, cuja preparação ordenou o Concílio (SC 51), os ritos estão já estabelecidos para uma digna celebração da palavra de Deus 15 ”. 16 Por último, Jounel conclui a sua introdução: “Herdeiro da liturgia de ontem, estabelecendo hoje elementos essenciais da liturgia de amanhã, o Ritus servandus de 1965 é um ritual de transição”. 17 Esta explicação do Padre Jounel não é marginal, bem pelo contrário. No mesmo ano, o Padre Elhinger publicou um livro intitulado: La Réforme liturgique. Décisions et directives d’application 18 no qual afirma claramente que o rito de 1965, por sua própria natureza, não constitui mais que uma etapa, e não uma adaptação do rito Romano tradicional destinada a perdurar:

“Trata-se de retoques circunstanciais, ou de um esforço coerente, integrado em um projeto mais amplo, sustentado por um espírito? 19 De antemão, estamos tratando sobre o caráter definitivo destas reformas. Elas são a primeira parte de um projeto de restauração mais amplo. O trabalho é parcial, mas não provisório. O Consilium não quis tocar em questões que ainda precisam ser amadurecidas, como o rito do Ofertório, da fração ou do envio da assembléia, porque as quer realizar definitivamente. (…) A Instrução Inter Oecumenici assegura a transição entre a liturgia anterior ao Concílio e a restauração mais profunda; não é uma adaptação de circunstância, mas uma etapa”. 20 “Ritual de transição”, “liturgia nova”, “etapa”, etc. Estas expressões empregadas pelos dois autores citados são claras e revelam o que realmente é o rito de 1965, e isso por um dos que contribuíram para a sua criação. Pois se trata aqui de pareceres autorizados e não de interpretações fantasiosas sobre o novo rito de 1965: recordamos que o Padre Jounel desempenhou um papel muito importante na redação deste rito, e, posteriormente, no rito de Paulo VI 21. As duas explicações concorrem em afirmar que o rito de 1965 é apenas uma etapa, uma transição, que não deve perdurar, entre o rito Romano tradicional e o rito de Paulo VI: a “liturgia da Palavra” estilo moderno já está instaurada, não restando senão fazer frente ao Ofertório e ao Cânon Romano: os mesmos princípios errôneos conduzem inevitavelmente às mesmas conclusões falsas. Exatamente os mesmos argumentos serão retomados para justificar o novo rito de Paulo VI: retorno às origens, adaptação pastoral, etc.
 
A exemplo de Jounel (“tem um outro espírito”) e Elhinger (“sustentado por um espírito”), Mons. Piero Marini, Mestre das Cerimônias do atual Soberano Pontífice [ndr: referência ao cerimoniário do então Papa João Paulo II, discípulo de Annibale Bugnini que hoje chefia oinexpressivo Comitê Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais], afirmava em 1995 na revista Ephemerides liturgicae n° 109, que o rito Romano tradicional e o rito de 1965 não tinham o mesmo espírito: “No que diz respeito ao espírito, não se encontra o Ritus servandus de 1570 no de 1965”. 22 Pode-se objetar que o espírito não é nada em relação ao texto. Basta, no entanto, constatar a diferença que há entre o Vaticano II e o “espírito do Vaticano II”: é em nome deste “espírito” que tudo foi abalado na Igreja já há trinta anos 23. Do mesmo modo, há o rito de 1965 em si mesmo e há o espírito que o sustenta. Constatamos, por outro lado, que os textos precedentes não podem senão invalidar a tese, largamente difundida em certos “reformadores da reforma”, segundo a qual o rito de 1965 é o fruto definitivo da constituição conciliar sobre a liturgia e que todo o mundo foi surpreendido pela promulgação do novo missal em 1970. Bastaria, com efeito, ler os livros de apresentação e explicação do rito de 1965 (como os citados acima), bem como as revistas eclesiásticas da época para se dar conta.
 
O Concilium trabalhava desde 1964 na reforma completa dos livros litúrgicos. Não ficou parado em 1965. De fato, a divulgação na imprensa da missa experimental do Padre Jounel (Cf. nota 14) atrasou qualquer outra reforma imediata da missa 24. Todavia, os membros do Concilium prosseguiram seus trabalhos de modo que no Sínodo Romano de 1967 fosse apresentada a “missa normativa” que, apesar de rejeitada por aquela assembléia, seria mantida e promulgada após algumas mudanças menores. Passemos, agora, às reformas implementadas no rito de 1965 25:

1) No Ordo da missa em geral:

a)Supressão do salmo Judica me no início da missa.
b)O último Evangelho é suprimido.
c)As orações recitadas ou cantadas pela schola ou pelo povo não são mais rezadas em particular pelo celebrante. 
d)Introdução da oração universal no início do ofertório.
e)Na missa solene, o subdiácono não segura a patena, que permanece sobre o altar. Não utiliza, por conseguinte, mais o véu umeral para levar o cálice da credência ao altar no início do ofertório. Não segurando mais a patena durante o Cânon, o subdiácono incensa a hóstia e o cálice durante a elevação, como nas missas de Requiem.
f) A incensação do clero é simplificada: todas as ordens, com exceção da ordem episcopal, são confundidas e incensadas em uma só vez para cada lado do presbitério.
g)O celebrante não é mais incensado pelo diácono após o Evangelho.
h) No Credo, não se ajoelha mais no “Et incarnatus est ... et homo factus est”.
i) Canta-se a secreta na missa cantada, e nas outras missas, reza-se em voz alta.
j) A doxologia no fim do Cânon é cantada ou rezada em voz alta, os sinais da cruz são suprimidos e, ao fim, o padre faz a genuflexão apenas após o Amem do povo.
l) O Pai Nosso pode ser recitado ou cantado pelo povo juntamente com o celebrante 26.
m) O Liberas nos após o Pater é rezado em voz alta.
n) Ao distribuir a Sagrada Comunhão, emprega-se a breve fórmula Corpus Christi. Em seguida, o celebrante dá a Comunhão sem fazer o Sinal da Cruz com a hóstia.
o) O Padre é autorizado a celebrar a missa cantada com a assistência exclusiva do diácono, sem o subdiácono.
p) É permitido aos bispos celebrar a missa cantada ao modo de simples padres.
q) O padre se persigna não mais que três vezes, pois as persignações seguintes foram suprimas: Adjutorium nostrum, Intróito, fim do Gloria, fim do Credo, Sanctus e Libera nos.
r) O celebrante, qualquer que seja a missa (cantada, solene, baixa), preside de sua sede a “liturgia da palavra”, como o faz o bispo quando celebra pontificalmente ao trono. Após a incensação do início da missa, ele retorna ao altar apenas no ofertório.
s)Os beijos litúrgicos foram suprimidos pela Instrução Inter Oecumenici.
t) Devido igualmente à Instrução Inter Oecumenici, a missa pode ser dita voltada para o povo 27.
u) O acólito não levanta mais a casula do celebrante nas duas elevações.
v) O acólito não toca mais a sineta no Sanctus e no Per Ipsum.
x) A Comunhão sob duas espécies foi introduzida, podendo os fiéis, doravante, comungar de pé 28.

CONTINUA...

FRATRES IN UNUM

terça-feira, 16 de agosto de 2011

HERESIA - A trivialidade contra o sagrado na Bélgica: “Chegamos a uma fase da história em que não aceitamos que o padre tenha que ser o intermediário. Queremos nos encarregar dos batismos e da comunhão”.

IHU – Willy Delsaert (foto) é um ferroviário aposentado com dislexia que praticou muito antes de enfrentar a paróquia católica suburbana Dom Bosco para celebrar os rituais da Missa Dominical com os quais ele cresceu.
A reportagem é de Doreen Carvajal, publicada no jornal The New York Times, 16-11-2010. 


A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“Quem toma este pão e come”, murmurou ele, quebrando uma hóstia com a sua esposa ao seu lado, “declara o desejo de um mundo novo”. Com essas palavras, Delsaert, 60 anos, e seus amigos paroquianos, discretamente, estão sendo os pioneiros de um movimento de base que desafia séculos de doutrina da Igreja Católica Romana acerca do culto divino e da distribuição da comunhão sem um sacerdote.

Dom Bosco é uma das cerca de dez igrejas católicas alternativas que surgiram e cresceram nos últimos dois anos nas regiões de língua holandesa da Bélgica e da Holanda. Elas são uma reação inquietante a uma combinação de forças: uma escassez de padres, o fechamento de igrejas, a insatisfação com as nomeações do Vaticano de bispos conservadores e, mais recentemente, a consternação diante do encobrimento de abusos sexuais cometidos por padres.

As igrejas são chamadas de ecclesias, palavra derivada do verbo grego para “convocação”. Cinco delas começaram no ano passado na Holanda por católicos que se afastaram de suas paróquias existentes, e outras estão sendo planejadas, disse Franck Ploum, que ajudou a iniciar uma ecclesia em janeiro, em Breda, na Holanda, e está organizando uma conferência em rede para os grupos dos dois países.

Nestas igrejas do sudoeste de Bruxelas, os homens e mulheres são treinados como “condutores”. Eles presidem missas e os marcos da vida: casamentos e batismos, funerais e ritos finais. Os membros da Igreja assumiram-na há mais de um ano, quando o seu pároco se aposentou, sem deixar um sucessor. Na Bélgica, cerca de dois terços do clero tem mais de 55 anos, e um terço tem mais de 65 anos.

“Estamos resistindo um pouco como Gandhi“, disse Johan Veys, ex-padre casado que realiza batismos e recrutas os recém chegados para outras tarefas na paróquia de Dom Bosco. “Nossa intenção não é criticar, mas viver corretamente. Nós pressionamos quietamente, sem muito barulho. É importante ter uma comunidade onde as pessoas se sintam em casa e possam encontrar paz e inspiração”.No entanto, eles parecem estar em rota de colisão com o Vaticano e a Igreja Católica da Bélgica. A Igreja belga foi surpreendida por um escândalo de abusos sexuais com 475 vítimas, e pela renúncia do bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, que em abril passado admitiu ter molestado um menino durante anos, que depois se descobriu ser seu sobrinho.Na visão de Roma, apenas padres ordenados podem celebrar missa ou presidir a grande maioria dos sacramentos, como o batismo e o casamento. “Se há pessoas ou grupos que não observam essas normas, os bispos competentes – que sabem o que realmente acontece – têm que ver como intervir e explicar o que está em ordem e o que está fora de ordem, se alguém pertence à Igreja Católica” disse o Pe. Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa do Vaticano.

“Práticas inaceitáveis”
O primaz da Bélgica, o arcebispo André-Joseph Léonard, de Malines-Bruxelas, já levantou objeções aos serviços alternativos, chamando-os de “práticas inaceitáveis”. Mas se recusou a responder às perguntas, mantendo o compromisso de manter silêncio até dezembro. Ele foi envolvido em uma polêmica neste mês depois de ter criticado o julgamento civil de sacerdotes idosos por atos de pedofilia como uma “vingança” e ter descrito a Aids como “uma espécie de justiça inerente” para atos homossexuais promíscuos.

Para alguns católicos do movimento das ecclesias e acadêmicos da Universidade Católica de Louvain, Dom Léonard representa uma Igreja remota desconectada de um rebanho que anseia por rituais mais relevantes e participação ativa. “Alguma coisa está começando a rachar”, disse o Pe. Gabriel Ringlet, ex-vice-reitor da Universidade Católica de Louvain, que está pensando em abandonar o termo “Católica” de seu nome. “Acho que a Igreja Católica belga está começando a sentir algo de excepcional, pela primeira vez em 40 anos. Muitos católicos estão acordando e se manifestando”. 

Em Bruges, cidade no centro do escândalo da pedofilia da Igreja, um grupo católico alternativo chamado De Lier aborda os escândalos da Igreja em seus serviços semanais. De Lier – A Lira, em holandês – realiza cultos semanais em uma capela escolar com uma rotação de dois homens, duas mulheres e um padre. Nos serviços recentes, os membros da igreja leram trechos de um relatório de uma comissão da Igreja belga que examinou o estado das vítimas de abusos sexuais de menores. Eles manifestaram a vergonha de uma Igreja que silenciou as denúncias de abuso sexual e que usou uma linguagem advocatícia para evitar pedir desculpas.
Eles também simplificaram e personalizaram os rituais, enfatizando a importância da comunidade. Normalmente, eles se reúnem em torno de uma mesa com taças de cerâmica para o vinho e um pão redondo, e os membros são convidados a contar a história de suas alegrias e tristezas da semana anterior.

“Estamos procurando formas de viver a fé de uma forma moderna”, disse Karel Ceule, membro do Lier. “Se você olhar para a crise atual com o arcebispo Léonard, ele é um símbolo de uma Igreja velha e conservadora. Em Flandres, isso não funciona mais. Chegamos a uma fase da história em que não aceitamos que o padre tenha que ser o intermediário. Queremos nos encarregar dos batismos e da comunhão”. 

Alguns bispos na Holanda e na Bélgica estiveram discretamente coletando informações sobre as Igrejas alternativas e reunindo-se com alguns dos seus membros. Pedro Rossel, porta-voz de Jozef De Kesel, o novo bispo de Bruges, disse que o prelado tinha conhecimento dos grupos, mas não os visitaria em breve. “Agora, ele tem outras prioridades. Ele tem muitos problemas com a questão dos abusos sexuais”, disse Rossel. Enquanto isso, membros desses grupos dizem que não guardam segredo do que estão fazendo, especialmente se acontecerem mudanças por causa da falta de padres. “Se você perguntar para a diocese oficialmente sobre isso, eles vão lhe dizer que você não pode fazer isso”, disse Bart Vanvolsem, membro da paróquia Dom Bosco. “Eles dizem que se não há padre, não há missa. Mas Cristo está aqui”.

Nos estágios iniciais da Dom Bosco, algumas pessoas reclamaram que os serviços demoravam muito. Outros se incomodavam com a intimidade da reunião ao redor de uma longa mesa de madeira. Alguns membros não queriam liderar um culto. “Eu ainda sou muito tradicional para fazer isso”, disse Barbara Birkhölzer-Klein. “O que está acontecendo aqui é totalmente natural, mas eu ainda não posso fazer isso”. Delsaert não tinha esses receios. Ele vestia uma estola com as cores do arco-íris e trazia suas anotações. “É a segunda vez”, disse ele. “Para mim, é muito intenso. Ler é muito difícil para mim, porque eu tenho dislexia”. Quase 150 pessoas se reuniram ao seu redor para um encontro organizado por membros adolescentes que escolheram o tema da paz e da música de John Lennon e de Paul McCartney.

Delsaert fez um sermão simples que remontou aos seus anos como ferroviário, exortando os paroquianos a promover a paz, conversando com as pessoas em suas vidas diárias. Ao dizer “oi” para um usuário diário dos trens, disse Delsaert, “esse homem se abriu para conversar sobre os atrasos dos trens”. “Ele parecia muito mais feliz”, contou. Durante o serviço, os adolescentes ficaram ao redor da mesa, enquanto uma declaração paroquial foi lida em voz alta: “Lamentamos a dor causada pelos padres e pelos responsáveis da Igreja. Lamentamos os danos às vítimas, à comunidade e à nossa Igreja”. Depois, uma moça acendeu uma vela com as cores do arco-íris no centro da mesa. A trêmula chama foi acesa em memória às 475 vítimas belgas de abuso sexual.

Carta do Padre Leonardo Holtz a Dom Orani João Tempesta.

PS.: EU TIVE A GRAÇA DE CONHECER ESTE SANTO PADRE E FALAR COM ELE POR TELEFONE, ELE É UM HOMEM MUITO BOM E SANTO. OBRIGADA MEU DEUS, POR TAMANHA ALEGRIA...


“É, porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1,10)


Excia. Rev.ma

Dom Orani João Tempesta, O.Cist.,

Arcebispo do Rio de Janeiro

Pax!

Há muito que desejo dirigir a V. Excia. estas palavras, mas não julguei ter ainda chegado a hora. Sei que V. Excia. já tem muitos assuntos com o que se ocupar e lamento profundamente ter que trazer mais um peso a V. Excia., contudo, era necessário que eu o fizesse, pois o que está em jogo é a minha vocação Sacerdotal e, até mesmo, a minha fé católica e a eterna salvação de minha alma. Afinal, “de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida?” (Mt 16,26). D. Orani, preciso deixar a Arquidiocese do Rio de Janeiro e, desta vez, será definitivamente. Peço que V. Excia. não me julgue sem conhecer meus motivos. Tenho atualmente trinta anos de idade e seis de ministério Sacerdotal. Vejo com clareza e profunda tristeza a terrível crise que se instaurou na Santa Igreja e, principalmente, no clero de uma forma geral. A disciplina eclesiástica foi deixada de lado e o que vigora hoje é um relativismo que arrefece a fé. Perdemos fiéis, as vocações estão diminuindo… Por quê? Simples: porque o jovem deseja encontrar na vida religiosa aquilo que ele não encontra na vida secular. Mas hoje se vê os religiosos agindo como os seculares, então, muitos jovens chegam à seguinte conclusão: não preciso ser um religioso para fazer o que os religiosos de hoje em dia fazem! Por que muitas congregações religiosas de hoje não tem mais vocações? Vamos culpar os “tempos modernos”? Vamos dizer que “os jovens de hoje não querem mais compromisso” como os jovens de outrora? Por que nossas paróquias e santuários estão repletos de fiéis nas missas (especialmente nas missas-show), mas as pastorais estão vazias? Por que nossos fiéis não sabem mais o catecismo? Por que as quadras de samba e as praias estão muito mais bem freqüentadas do que nossas paróquias? Creio que muitos saibam as respostas dessas perguntas, mas muito poucos tem a CORAGEM de admitir, pois é muito mais confortável colocar remendos do que derrubar tudo e reconstruir.


Ingressei no Seminário Arquidiocesano de São José aos 12 dias do mês de Fevereiro de 1997. Tinha acabado de completar 17 anos no dia anterior. Recebi a investidura da batina uma semana antes de Cinzas. Que dia feliz! Recebemos a batina numa cerimônia bonita que foi feita pelo padre Reitor, mas logo que acabou a cerimônia tivemos que tirá-la e guardá-la no armário. Sempre me faço uma pergunta: Exatamente para que o nosso Seminário mantém uma cerimônia de recepção de batinas, se ninguém pode usá-la depois como seu hábito cotidiano e sim como um paramento ocasional? Sabe, D. Orani, eu sempre gostei de vestir minha batina. Sei que eu não era muito bem visto no seminário por causa disso. Eu não usava batina direto dentro do seminário, em parte para não causar problemas com meus superiores, e em parte por escrúpulo e respeito humano. Há muitos que dizem o famigerado bordão “o hábito não faz o monge”, o que é uma bela desculpa para a indisciplina dos padres de hoje. O mais interessante é que não vemos uma muçulmana sem a burca, ou uma “mãe-de-santo” sem seus trajes ou mesmo um militar em serviço sem seu uniforme, mas nossos clérigos insistem em se apresentar como leigos. É claro que se nem os padres dão o exemplo, como os fiéis vão poder se portar bem? Tenho que suportar as mulheres mal vestidas, os decotes e mini-saias dentro da igreja. Isso para não falar que destruíram o piedoso uso do véu. Reina a vaidade! Os homens não ficam atrás. Deus sabe como tenho vontade de negar a Santa Comunhão aos homens que vem de bermuda à Igreja. A Santa Batina é o manto sagrado de Nosso Senhor que nos protege de muitos males, sem falar que para nós, religiosos, ela é um constante lembrete de nossa consagração e um excelente exercício da virtude da humildade e de mortificação. Nosso Senhor já dizia: “o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41). Quanto bem a batina pode fazer ao sacerdote! Um sacerdote de batina necessariamente vai ponderar melhor seus atos; não pode freqüentar todos os ambientes; deve conter os olhares curiosos, as palavras ociosas, as excessivas familiaridades. Ele deve portar-se bem SEMPRE, pois, carrega consigo a Imagem da Igreja, Esposa do Cordeiro, sem ruga e sem mancha. Depois do Concílio foi feito um trabalho de “destruição” da imagem do sacerdote. Querem convencer os católicos (e o mundo inteiro) de que o padre é um homem comum e que, portanto, deve se vestir como um homem comum. Disseram-me no seminário certa vez que o Concílio permitiu que os padres tirassem a batina para “facilitar o ministério pastoral, pois vestindo uma veste comum, isso facilitaria a entrada do padre em ambientes hostis à fé para que lá ele pudesse exercer o apostolado”. Quanta ingenuidade (para não dizer leviandade)! Que sutil armadilha do demônio! Se isso fosse verdade as praias, as boates, casas noturnas masculinas (gls), as casas de show eram para estar mais que evangelizadas! Que diriam os jesuítas europeus que enfrentaram o calor, a mata, os mosquitos e outros contratempos na evangelização da América Latina? E sem tirar seu hábito! Por acaso eles ficaram nus para “dialogar” com os índios? Depois nós “choramos o leite derramado” quando surgem os escândalos que mancham e envergonham o nome da Santa Igreja. De que adianta Sua Santidade, Bento XVI, pedir perdão às vítimas dos abusos de pedofilia se ele, que tem o poder das chaves, não impõe uma disciplina mais rígida aos padres e não exige uma seleção mais severa e uma formação mais sólida nos seminários? Será que se esses padres recebessem uma boa formação, se alguém lhes tivesse falado de sacrifício, mortificação, vida espiritual, se alguém tivesse ensinado a eles que o ministério que receberam é sublime demais e que eles, sem ser diferentes dos demais homens, não são exatamente iguais, será que teríamos tantos escândalos? É triste, D. Orani, mas hoje temos de tudo: padres cantores, psicólogos, jornalistas, artistas, mas temos poucos padres PADRES! Encontramos padres em todos os ambientes hoje, mas, se bobearmos, só não os achamos nas paróquias. Soube que existe um padre que não rezava a Missa da primeira sexta-feira do mês em sua paróquia; as senhoras do Apostolado da Oração para obrigá-lo a rezar a Missa, fazem uma “vaquinha” todo mês e lhe dão uma espórtula. Isso porque ele afirma que só celebra durante a semana se houver intenções marcadas. Mas, mediante uma espórtula, abre-se uma exceção. Não vou consertar o mundo, Excelência, mas fico perplexo com tanta hipocrisia!


No meu segundo ano de seminário, eu estava retornando da minha pastoral dominical e estava usando minha batina. Encontrei-me na rua com um padre formador. O cumprimentei. Ele me olhou, mas não acenou e nem fez o menor sinal de retribuição. Quando cheguei ao seminário, recebi um recado de que o próprio queria me ver. Fui até o padre e ele me segurou pelo braço, com agressividade e, me machucando, perguntou por que eu estava de batina na rua. Me disse coisas horríveis, disse-me que eu gostava de “aparecer” e que eu era um “carreirista”. Que atitude paternal, não? Digna de um formador de seminário! Um homem emocionalmente desequilibrado, metido a psicólogo, com uma psicologia de porta de banheiro, formando os futuros padres da nossa Arquidiocese! E pior: esse senhor, ainda por cima, é um herege! Ele afirmava com todas as letras que a Santa Missa é apenas um “culto de louvor” e não um sacrifício. Certa vez, após o ofertório, ele disse: “Orai irmãos para que o nosso culto de louvor seja aceito por Deus Pai todo-poderoso”, eu me levantei me retirei da capela na mesma hora. Ele foi atrás de mim logo depois para me perguntar por que eu saí da capela no meio da Missa. Eu respondi: “Não, padre, eu não saí no meio da ‘Missa’, mas sim no meio do ‘culto de louvor’. Se fosse a Missa eu teria ficado na capela”. O mesmo sacerdote afirmava também que os Sacramentos não são sete, mas que são muito mais. Quando ele afirmou isso em sala de aula eu, perplexo, levantei a mão e perguntei: “mas se o senhor perguntar na prova e eu responder o que eu aprendi no catecismo, que os sacramentos são SETE, o senhor vai me descontar pontos?” Ele mandou que eu me retirasse da sala de aula.


Sempre ouvia as histórias de minha avó que dizia que no tempo dela a Missa era em latim e que o padre ficava de costas aos fiéis, mas eu não tinha a menor noção do quanto tinham mudado a Santa Missa. Na minha cabeça pueril tratava-se apenas de uma questão estética e lingüística. Como eu estava enganado! Esse assunto no seminário era uma espécie de TABU. Simplesmente não se falava. Foi, então, numa bela tarde que a Graça Divina me conduziu à biblioteca do seminário e ali encontrei um belo livro vermelho, grande, antigo e a lombada trazia em dourado as palavras MISSALE ROMANUM. Pesquisei um pouco, mas não reconheci aquela Missa. Por isso, retirei o Missal e o levei direto ao meu diretor espiritual para fazer algumas perguntas. As únicas respostas que obtive foram: “Sim isso é um Missal antigo” e, logo depois, “coloca aonde você pegou”. Encontrei na mesma sessão os breviários, os rituais e fiquei encantado. Mas afinal, porque a Missa tinha mudado? Por que tudo aquilo estava ali abandonado? E comecei a pesquisar cada vez mais. Mas, quando alguém percebeu meu repentino interesse (e o de alguns outros colegas) pelos livros tradicionais, misticamente, um belo dia, a estante inteira DESAPARECEU. Ainda assim conseguimos salvar um antigo breviário com o qual eu e mais dois rapazes nos reuníamos à noite (escondidos) para rezar as Completas no rito de S. Pio V, com medo de sermos vistos como se estivéssemos fazendo algo proibido ou vergonhoso. Fico muito triste de constatar que hoje se fala tanto em “liberdade religiosa” e de “diálogo”, mas quando se fala em Concílio de Trento aí todo o diálogo desaparece. Há uma profunda aversão a tudo o que é antigo; há uma sede insaciável de novidade.


Outra coisa que me deixava furioso dentro do seminário era aquela SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS. Sempre achei isso uma aberração! Como pode um bando de protestantes hereges serem convidados a pregar dentro de um seminário católico? O mais engraçado da história (para não dizer ‘trágico’) é que se retirava o Santíssimo Sacramento do Sacrário e as imagens de Nossa Senhora e S. José também iam parar na sacristia. Mas se o protestante está vindo na MINHA CASA eu tenho que tirar as imagens e o Santíssimo Sacramento por que? Eu preferia, nessas ocasiões, me retirar e ficar no meu quarto a presenciar aquilo. Não entendo o ecumenismo. Não o entendo por que isso NUNCA nos levou a lugar algum! Diziam que essa postura iria ajudar a trazer os hereges e os apóstatas à verdadeira fé, mas o que temos visto é mais e mais apostasia. Quantos fiéis não abandonaram a fé e se uniram a essas seitas? Contra fatos não há argumento e o FATO é que após o Vaticano II e seus movimentos ecumênicos as seitas triplicaram como um estouro da boiada!


Também me incomodava o fato de que leigos estudavam filosofia e teologia com os seminaristas; mulheres participavam da vida cotidiana dos seminaristas… muito impróprio. E os “passeios” das turmas e as “convivências” em Itaipava? Eram ótimas ocasiões onde os seminaristas mostravam REALMENTE quem eram; as músicas que se ouviam, as letras que se cantavam, as palavras ociosas, as brincadeiras nem sempre inocentes e sem segundas intenções… ali já estava um retrato do clero que viria depois: gente que tem SIM suas qualidades humanas, mas que não receberam uma formação que os ajudasse a se exercitar nas virtudes que um sacerdote deve ter. Tinha colegas que ficavam inquietos e impacientes nas Missas, ofícios e outras orações na capela do seminário. Alguns resmungavam (de forma audível) torcendo para que os ofícios terminassem logo. Nunca entendi bem aquilo. Se a pessoa não gosta de rezar, se tem pressa que o ofício termine, vai ser padre pra quê?

Não sou nenhum santo, D. Orani, mas sempre tive consciência da grandeza que é o ministério Sacerdotal, mesmo quando dava meus passos errados. Ainda os dou muitas vezes, mas me confio no Sacramento da Confissão e nos exercícios de mortificação e luto para tentar ser um sacerdote santo.


Em 2001 fui Ordenado Diácono por Dom Eusébio, mas sempre tive o desejo de ser Ordenado no Rito Tradicional. Dom Eusébio sabia disso, pois eu mesmo disse a ele. Como naquele período as negociações entre Campos dos Goytacazes (RJ) e a Santa Sé tinham acabado de acontecer, fui a Campos conversar com Dom Fernando Arêas Rifan, bispo da Administração Apostólica Pessoal S. João Maria Vianney. Tinha intenção de pedir transferência para a Administração Apostólica. Mas voltei de lá muito triste, na verdade, decepcionado! Dom Rifan me disse: “É melhor o senhor ficar onde está. Quem sabe com o seu pensamento tradicional o senhor não possa ser uma influência positiva para o clero carioca?” (Sic!) Não entendia como ele podia rejeitar um padre tradicional já que havia tão poucos.


Bem, como Diácono, ninguém podia me impedir de usar a batina em tempo integral, afinal eu já era oficialmente um clérigo. Mas D. Eusébio me chamou para conversar e me pediu que eu a tirasse. Tentei argumentar com o Cânone 284, mas, ainda assim, ele mandou que eu tirasse a batina para “ficar igual aos outros”. É claro que, por obediência, eu a retirei. Dom Eusébio ainda me disse que eu deveria ter algum problema de ordem psicológica e determinou que eu fizesse sessões de terapia com Dom Wilson Tadeu Jönk, que é psicólogo, o que foi, obviamente, uma grande perda de tempo tanto para mim, quanto para o bispo. Sempre no final das sessões, deixávamos marcada a próxima. Certa vez Dom Wilson marcou numa terça-feira de carnaval. Eu disse a ele “Mas é uma terça de carnaval!” e ele me respondeu: “Eu não vou sair no bloco, você vai? Se não vai, então não vai encontrar problemas de vir até o palácio”. Todo mundo que me conhece sabe como eu detesto sair à rua nos dias de carnaval, primeiramente por medo da violência e depois porque as pessoas me vêem de batina e pensam se tratar de uma fantasia ridícula de carnaval. Mas eu fui assim mesmo. NUNCA vou me esquecer desta cena: cheguei ao palácio e Dom Wilson estava numa salinha do segundo andar com as pernas apoiadas numa mesinha de centro assistindo TV. Tinha se esquecido por completo do nosso encontro e disse que não era um dia apropriado para fazer isso, que eu deveria ter me enganado. Senti-me muito humilhado, mas ofereci isso como sacrifício a Nosso Senhor pela conversão do clero (dele em especial). Tanta gente fazendo coisa errada (desvio de dinheiro, problemas morais seríssimos) e o arcebispo perdendo tempo com um diácono só porque ele queria ser um padre que reza a Missa de Trento? Francamente! Nosso Senhor estava absolutamente certo quando disse: “Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.” (Mt 23,24).


Fui Ordenado Sacerdote em 17 de Abril de 2004. Fui logo de cara enviado como coadjutor numa paróquia onde o pároco era muito grosseiro com o povo e os fiéis tinham se afastado em sua maioria. A desculpa dada era “porque ele era velho”. Então todo velho tem que ser grosseiro e mal-amado? Ele queria a todo custo que eu imitasse os abusos que ele introduzia na Missa (ele tinha mania de apagar as luzes da igreja e acender uns holofotes coloridos na hora da consagração) ao que eu disse: “reze a Missa do jeito que o senhor quiser, mas eu a rezarei como está no Missal!” Parece que os senhores bispos tem um enorme problema em transferir párocos que estão há muitos anos numa comunidade, mesmo que estes estejam fazendo um mal monumental às almas e afastando os fiéis da Igreja. Os bispos conseguem ter pena de UM, mas são incapazes de ver que MUITOS estão a sofrer por causa daquele um. Fui transferido para outra paróquia, para ser coadjutor de um sacerdote mais jovem. Fui bem recebido pelo pároco. Cheguei no dia exato em que estava acontecendo o tradicional mutirão de confissões preparatórias para a Páscoa. Atendemos até 1 hora da manhã mais ou menos. Após o jantar os padres foram embora e, quando só restamos nós dois, então conversamos. Ele me perguntou se eu tinha gostado da comunidade, e, então, me disse: “Bem, seja bem-vindo aqui então. Vou logo te avisando, eu quero um coadjutor aqui pra trabalhar. 

O que você vai fazer com seu tempo pessoal é problema seu desde que você cumpra suas obrigações. Você não vai morar comigo aqui na casa paroquial. Temos uma capela que tem sua casa própria. Vou te dar as chaves e você vai morar lá. Assim, se você quiser, pode ter suas visitas íntimas; Só toma cuidado para não arrumar um filho.” Chorei o resto da madrugada inteira. Chorei, D. Orani, por que me lembrei das palavras de Nosso Senhor ao Santo Padre Pio falando sobre os sacerdotes: “Vede como me tratam como açougueiros?”. Uma vez, num sábado, eu estava sentado ao confessionário e deveria ter umas dez pessoas na fila. O Pároco chegou de repente e pediu que as pessoas voltassem outro dia, porque ele precisava muito de mim. Os fiéis foram embora e eu o ajudei a fechar a igreja. Perguntei então aonde íamos e que tipo de ajuda ele precisava de mim. Quando ouvi a resposta fiquei estarrecido, não acreditava no que eu estava ouvindo: “preciso que você vá à concessionária comigo para me ajudar a escolher meu carro novo”. Pena que muitos padres não acreditem mais no castigo dos Céus, porque ele veio: exatamente uma semana depois ele capotou com o carro novo na Avenida Brasil. Graças a Deus não se feriu gravemente, mas o carro deu perda total!


Em 2007 pedi a Dom Eusébio que me permitisse fazer uma experiência no recém-criado IBP (Instituto Bom Pastor). Fui então para S. Paulo e morei lá um pouco tempo. A convivência lá era muito boa, contudo, o que garantia a permanência do IBP em São Paulo, era o apoio econômico do Professor Orlando Fedeli e da sua Associação Cultural Montfort. Chegou um período que os padres e os seminaristas que lá estávamos, julgamos que a Montfort influenciava muito dentro do seminário e que se fazia necessária uma clara distinção entre as duas instituições: Montfort e IBP. Aliás, nós padres, muitas vezes sentíamos que só servíamos para ministrar sacramentos e mais nada. Até nossos sermões foram muitas vezes submetidos a julgamentos. Outro fato que me levou a desacreditar no IBP foi que o superior geral, o Padre Phillipe Laguérie, que deveria tomar uma medida firme para diminuir a influência da Montfort dentro da casa do IBP, não o fez, sobretudo depois de uma visita do Prof. Fedeli a Bordeaux (França) e uma conversa com Pe. Laguérie. Bem, um superior geral que não toma medidas firmes e se deixa vencer pelo respeito humano não é digno da minha confiança. Por esses e outros motivos, retornei ao Rio de Janeiro.


Vim para a Paróquia Bom Pastor, inicialmente como coadjutor do meu irmão e, depois, como Pároco. Mas estou numa terrível crise de consciência desde então. D. Orani. Juro ao senhor que eu tentei de TUDO para me enturmar com o clero daqui. Pensei comigo mesmo “E se eu estiver sendo rígido demais? E se eu tentasse ser mais maleável para tentar me enturmar melhor?” Fiz muitas tentativas para me entrosar com o restante do clero. Tirei minha batina e o senhor sabe muito bem disso. O senhor mesmo já me viu sem batina algumas vezes… Cedi muitas vezes, me calei muitas vezes quando eu não concordava com algo; como dizia São Paulo: “fiz-me tudo para todos na esperança de salvar alguns” (1Cor 9,22). Mas descobri uma coisa: cheguei à conclusão de que com o MODERNISMO não existe diálogo! É inútil! É o mesmo que “pôr um remendo novo em roupa velha” (cf. Mt 9,16). Eu abri mão do que é justo, bom e honroso, mas não há reciprocidade… ninguém ficou mais tradicional nem obedeceu mais à disciplina da Igreja por causa disso. No final, eu é que estava virando um progressista! Ouvi este sábio pensamento uma vez: Dez laranjas boas não CURAM uma que está podre, mas é precisamente a ÚNICA PODRE que vai contaminar TODAS as outras dez. Coisas ruins sempre se aprende com mais rapidez e facilidade que as coisas boas. Destruir é bem mais rápido que (re)construir. É por esse motivo que eu não posso mais ficar aqui, D. Orani. Não pense que faço isso sem dor na consciência. Mas chegou a hora (e já até passou) de eu deixar de lado o respeito humano e dizer o que eu realmente penso e ficar em paz com minha consciência.


Primeiramente, como católico, eu não estou obrigado a aceitar o Concílio Vaticano II, uma vez que este foi um concílio pastoral e não um concílio dogmático. 

- Quanto à Missa, não nego a validade da nova missa, contudo afirmo que ela é ambígua e não expressa, como a de S. Pio V, os principais dogmas católicos. Confesso que celebro com muita relutância a missa segundo o Novus Ordo (de Paulo VI). Não posso aceitar o ofertório do Novus Ordo que é uma berakah judaica. É claramente uma ceia e não um sacrifício! Há muito tempo que eu o substituo pelo Ofertório Tradicional. Faço esta e outras modificações para que a missa nova seja o mais suportável possível para mim e possa expressar o mais possível os nossos dogmas de fé. Contudo isso me incomoda muitíssimo, pois sei que não tenho a graça de estado para modificar um rito. Mas em consciência, não posso continuar a celebrar esse rito!


- Também quanto aos Sacramentos (Batismo, Confissão, Matrimônio e Extrema Unção) e o Breviário eu faço no rito antigo já faz algum tempo.


- Não compreendo e não aceito a concelebração eucarística! Enfim, D. Orani, minha presença aqui mais atrapalha do que ajuda esta Arquidiocese. E atrapalha também a mim e ao meu crescimento espiritual, pois é muito cansativo viver num eterno conflito. Cada reunião do clero é uma nova batalha. Tenho evitado ir às cerimônias e encontros da Arquidiocese, pois assim eu peco menos. Fui ao aniversário de 90 anos de Dom Eugênio exclusivamente para pecar: “você meu amigo de fé, meu irmão camarada” cantado para um Cardeal, durante a Santa Missa numa Catedral? Elba Ramalho cantando “Asa Branca” no presbitério? Desculpe, Dom Orani, é demais para mim. Perdoe meu desabafo. Desculpe o transtorno. Não me queira mal. Sinto-me uma ave solitária aqui… pelo menos se eu for, poderei ajuntar-me ao bando dos de minha espécie.


Estou me unindo à Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX). Devo passar algum tempo no seminário na Argentina para refazer algumas matérias da Teologia (principalmente da teologia moral que é muito fraca no seminário do Rio) e, depois seguir, como missionário, onde os senhores bispos da Fraternidade me enviarem. Não me tome por cismático e nem herege. Afinal, como Mons. Lefèbvre dizia: “não fundamos uma religião nova, não criamos novos sacramentos, não criamos uma nova missa, não inventamos liturgia própria, apenas queremos conservar, seguir e ensinar aquilo que a Igreja SEMPRE ensinou”.


Mais uma vez peço perdão pelo transtorno e humildemente peço vossa bênção e vossas orações.


In Iesu et Maria,


Rio de Janeiro, 25 de Janeiro de 2011


Festa da Conversão de São Paulo









Pe. Leonardo Holtz Peixoto